domingo, 22 de novembro de 2009

"OUSAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE" - DIÁKRISIS

“OUSAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE” - DIÁKRISIS
É possível Lutar contra os Males – Ser Kairós, e não apenas khrónos.
JUVENAL ARDUINI:

“Nossa gente reclama Diákrisis. Exige decisão criadora para gerarmos outra história, outra vida, outra esperança. Este é o apelo fascinante que deciframos no rosto padecido de nosso povo injustiçado, mas ainda não desesperado.”




Fiquei pensando se seria possível encontrar um modo de lutarmos contra o mal, e encontrei nas lições do sacerdote, filósofo e antropólogo mineiro Juvenal Arduini uma forma em que cada ser humano pode contribuir com uma “ação de decidir”, a Diákrisis, para reinventar a humanidade, em sua obra: “Ousar para reinventar a humanidade” São Paulo, Paulus, 2002, p. 13-19.

O autor identifica que o “fatalismo cronológico difunde a crença da imutabilidade histórico-social. Leva a acreditar que o tempo traça o destino humano. Dessa forma, os grupos fracos e dependentes sentem-se impotentes. E as vítimas sociais não teriam força para modificar a sociedade que as esmaga. Não adiantaria lutar contra o tempo. Por isso, os que se enriquecem com a atual sociedade injusta tentam mostrar que é inútil querer transformá-la. Nada imobiliza tanto os empobrecidos como incutir-lhes a ideia de que é impossível mudar o país.

Mas a verdade é outra. Leis, organizações, programas governamentais, tramas políticas, desemprego, privilégios de uns e carências de outros, reformas e medidas protecionistas são produto de decisão e ação das pessoas, de grupos e nações. Setores organizados lutam ferozmente para impedir mudanças sociais, para sobrepor seus lucros às necessidades da população.
Não há fatalismo cronológico. Pode haver banditismo social, político e econômico no plano nacional e internacional.

Há que cultivar a reflexão e a práxis “emancipatória”, de que fala o filósofo J. Habermas.
O ser humano precisa desalienar-se, adquirir senso crítico, decidir-se e participar. Não se pode transferir sua responsabilidade ao tempo. Em todo ser humano existe potencial emancipatório.

Não basta mudar o curso do tempo. Há que mudar a vida da humanidade aviltada. É urgente construir a história da justiça, em vez da história da desigualdade; construir a história da dignidade, em vez da história da miséria; construir a história da maioria silenciada, em vez da história da minoria falante. A história não está encerrada . E a sociedade brasileira há de acelerar o rítmo de gênese. E ter ousadia para reinventar-se.

O agente histórico é o homem, e não o tempo. Durante o mesmo período de tempo, pode haver grandes conquistas e grandes retrocessos, pode ser criada técnica para curar enfermidades e também nova técnica para mutilar vidas.
Na mesma época, coexistiram a terna Tereza, de Calcutá, e o cruel Augusto Pinochet.

Perante o tempo, nossa atitude deve ser mais de iniciativa do que de expectativa. Há que tecer os acontecimentos, em vez de esperar que surjam automaticamente. Importa ser agente e não só espectador da história. O fatalismo cronológico esvazia a ação humana, porque atribui ao tempo a destinação histórica. Com essa mentalidade, o ser humano apassiva-se. Espera de braços cruzados. Aguardar pode ser cômodo, mas não é eficaz.

O filósofo Jurgen Habermas abre análise elucidativa. Em seu livro Textos e contextos, lembra que Hitler, Charles Chaplin, Winttgenstein e Hidegger nasceram no mesmo ano de 1889, mas criaram “destinos” diferentes e, até, opostos. Hitler foi o ditador feroz, exterminador de milhões de vidas humanas. Chaplin, em nome da inteligência e da liberdade, estimatizou o tirano com o filme O grande ditador. Wittgenstein nasceu de família judaica. Especialista em matemática, tornou-se o filósofo da linguagem. Paradoxal. Místico, anustiado, Wittgenstein escreve a Bertrand Russel: “Sinto-me a um passo da loucura”. Heidegger foi filósofo do Sentido do saber. Pensador denso, referência obrigatória para a filosofia. Não demonstrava tormento psicológico, como Wittgenstein. Mas cortejou o nazismo.

São quatro figuras históricas nascidas no mesmo ano, mas com biografias heterogêneas e contrastante. Isto mostra que seres humanos da mesma época podem construir rumos, vidas e histórias com significados deferentes e até contraditórios.
O fundamental não é o fluir do tempo, mas a Diákrisis, a ação de decidir. É a Diákrisis, a decisão criativa que gera a história, cultura, economia, política, educação, tecnologia e transformação de sistemas. Se o tempo plasmasse a humanidade, os habitantes da mesma era seriam todos iguais.

Nossa gente reclama Diákrisis. Exige decisão corajosa e iniciativa criadora para gerarmos outra história, outra vida, outra esperança. Este é o apelo fascinante que deciframos no rosto padecido de nosso povo injustiçado, mas ainda não desesperado.” (GRIFEI).

Extratos da Obra: ARDUINI, Juvenal. Ousar para reinventar a humanidade. São Paulo, Paulus, 2002, p. 13-19.

sábado, 21 de novembro de 2009

O MAL DA IGNORÂNCIA

Quem já não ouviu a famosa frase “só sei que nada sei” dita por Sócrates, famoso filósofo da filosofia clássica. Engana-se quem entende essa frase de forma literal, como se o filósofo quisesse dizer que desconhece tudo e que o conhecimento é inalcançável, pelo contrário, Sócrates nos aparece como alguém que busca o conhecimento, alguém que questiona os supostos sábios sem se considerar sábio ele mesmo. Para ele o conhecimento é algo que nunca podemos alcançar em sua totalidade, mas a sua busca é fundamental na vida humana.

Entretanto, o que vemos atualmente é um assustador quadro em que as pessoas não conseguem responder perguntas simples como: 2+2 é igual a 2x2? Evidentemente as justificativas são muitas em uma sociedade imediatista em que não temos tempo para procurar respostas para nossas curiosidades básicas, deixando sempre para amanhã questões que não são fundamentais para o dia a dia que consome cada um de nós.

O Iluminismo, movimento que teve sua origem no século XVIII, proliferou a exaltação da razão como instrumento para atingir o conhecimento. Acreditava-se que a razão podia conhecer tudo e que ela iria produzir a libertação do homem. Assim, a idéia dos iluministas pode ser metaforizada como se a nossa mente fosse um sótão escuro habitado por fantasmas, que vivem nos dizendo como devemos agir, e a única forma de espantar esses fantasmas é iluminar todos os cantos do sótão por meio da razão.
A própria filosofia possui a etimologia conectada ao conhecimento, Filos é traduzido como amigo e Sofia como sabedoria. Logo, entende-se que a própria filosofia é a busca do conhecimento através de uma produção intelectual do próprio homem.

Em Eutidemo, Platão conceitua a filosofia como “o uso do saber em proveito do homem, o que implica, 1º, posse de um conhecimento que seja o mais amplo e mais válido possível, e, 2º, o uso desse conhecimento em benefício do homem”. Já Immanuel Kant conceitua a filosofia como ciência da relação do conhecimento finalidade essencial da razão humana, que é a felicidade universal; portanto, a Filosofia relaciona tudo com a sabedoria, mas através da ciência.
Nesta lógica, evidencia-se que para vários filósofos a sabedoria é a forma de exaltação do homem e é como ele busca a sua liberdade. Se não temos conhecimento somos engolidos pelo senso comum, e a consequência é que nossas ações serão determinadas pelo juízo de valor imposto pela maioria.

Mas o que estamos perdendo com a emersão na ignorância?

No âmbito das leis está pergunta pode ser facilmente respondida. De acordo com Immanuel Kant as leis, para serem válidas, devem ser construidas pela nossa razão, através de um processo intelectual, e está, para ser válida, deve ser amparada por uma moralidade universal. Entretanto, atualmente as leis são construidas por poucas pessoas, que na maioria estão mais preocupados com sua vida e convicções privadas do que com a vontade daqueles que o elegeram. Neste sentido, se observa que as leis tem uma natureza de imposição e não de construção coletiva o que não proporciona uma identificação das normas com a razão popular.

Devido a este quadro se pergunta: Por quê temos a mânia de sempre estar a margem da política, insistindo na ignorância sobre os atos do poder? A única certeza é que devido a este desconhecimento generalizado proporcionamos um quadro propício à corrupção e a imperícia, o que retarda a evolução do nosso país.

Por este motivo, não podemos esquecer que as leis irão nortear a vida de todos os indivíduos submetidos a soberania deste Estado, e que as normas são produzidas por pelos governantes que representam o poder do povo, sendo assim, submetidos a vontade popular. Entretanto, a única forma de garantir a influência popular é através do voto consciente, da fiscalização e do bom senso.



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Intolerância e o mal


Kant, em sua filosofia, diz que o homem vive em dois mundos: o humano, que é regido pela razão e o da natureza, que é regido pelas inclinações (extinto). Kant diz também que o homem sempre será regido por leis independentemente do mundo em que ele se encontra, a diferença é que ele será regido ou pelas leis da natureza ou pelas leis dos homens. Para ele, essas leis têm que ser universais, e isso só é possível quando o indivíduo submete as suas máximas (princípios subjetivos do homem, de como o mesmo deve agir) ao julgamento de sua própria razão para ver se aquelas são válidas para todos, todo o tempo, em todos os lugares,ou seja, universais. Justamente porque o homem não vive apenas no mundo racional, é que o direito surge, uma vez que se vê necessário controlar as inclinações e máximas para que essas não ultrapassem a liberdade do outro.

E foi exatamente isso que foi visto há algumas semanas atrás, quando uma estudante foi com um vestido curto para faculdade e, após ser ofendida de todas as maneiras, teve que ser escoltada para não ser agredida, chegando ao ponto de a universidade divulgar que essa aluna seria expulsa. E, o que é isso se não as pessoas agindo pelas suas inclinações e máximas. É inegável que as pessoas tenham o direito de se sentirem incomodadas com o vestido e até mesmo com a postura da aluna em questão, mas isso não justifica o comportamento que essas pessoas tiveram, uma vez que elas ultrapassaram a liberdade do outro, e é justamente nesse momento, que o direito entra, para que essa aluna seja respeitada.

Esse caso não é o único que mostra que as pessoas agem mais no mundo natural do que no mundo da razão. Pode-se observar também que nossa sociedade, ainda que tenha evoluído muito, não conseguiu chegar ao ponto de se tornar tolerante, é só perceber que as minorias ainda sofrem bastante discriminação, devendo o direito intervir para que essas tenham a sua liberdade garantida acima de tudo.

O homem deve se conscientizar que é necessário respeitar as leis e os direitos das pessoas, não por medo de uma sanção ou qualquer outra conseqüência, o que, para Kant, caracteriza um imperativo hipotético, mas sim porque é o que se deve fazer, o que Kant denomina de imperativo categórico. Lógico que não se deve chegar ao ponto de se respeitar uma lei que é injusta, deve-se fazer, mas com pensamento crítico. No dia em que se chegar nesse momento, finalmente viveremos em uma sociedade justa, tolerante e um pouco mais ética.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A contribuição de Plotino para a compreensão do Mal

Plotino (204-270) nasceu em Licópolis, Alto Egito e, aos 28, foi para Alexandria, onde seguiu as lições do platônico Amônio Sacas, que o converteu ao pensamento filosófico. Em 243, no intuito de conhecer a filosofia persa, se engajou no exército do imperador Giordano; sobrevivendo a desastres, quedou-se definitivamente em Roma, onde abriu uma escola e uniu às práticas ascéticas (“tinha vergonha de estar num corpo”, dirá seu discípulo Porfírio a seu respeito) um ensinamento muito brilhante. Porfírio anotou e publicou seus cursos, agrupados em cinquenta e quatro tratados.Sua doutrina fundamental é a das três hipóstases, a saber, das três substâncias (três realidades eternas), que procedem umas das outras:1. A realidade suprema, o Deus, é Uno, o qual não é o conhecimento nem o ser, mas antes a fonte inefável de todo ser e de todo pensamento. Ele é todas as coisas e nenhuma delas. Para Plotino o Uno, que a tradição cristã identifica como Deus, transcende o ser, a substância e a morte, vai além de todas as coisas, é infinito e imaterial. Mas é o Deus-Uno que gera e conserva todas as coisas ilimitadamente. Nós não conseguimos entender, chegar até Ele, manifestar ou representar Deus. Ele cria as coisas como se fossem emanações que dele saem como a luz que sai de um astro luminoso e se espalha para tudo à sua volta.2. Tal Deus não está submetido a qualquer necessidade, uma vez que desejar é sentir falta de algo; ao passo que Ele é plenitude. Deus quando pensa a si mesmo cria o intelecto, que é a sua representação. O intelecto quando pensa em si cria a alma, que é a representação do intelecto. Nesse processo de representação as criações vão perdendo a identidade com o que representam originalmente, da mesma forma como as cópias de cópias vão perdendo a qualidade. Assim, as coisas que tem origem em Deus serão sempre a Ele mais inferiores à medida que se afastam dele.3. A alma é a mediação entre a inteligência, da qual ela procede, e o mundo sensível, cuja ordem é por ela constituída. A alma humana é parcela do próprio Deus presente em nós.O mundo material representa, abaixo das três hipóstases, o último estágio dessa difusão divina, o ponto culminante no qual morre a luz, onde se encontram a opacidade da carne, o peso da matéria, as trevas do mal. Contudo, enquanto o Uno se dispersou, se obscureceu, se abismou no múltiplo, este almeja a reconquista da unidade, da luz e do repouso na fonte sublime. Ao movimento de procedência corresponde o impulso de conversão pelo qual a alma, caída no corpo, perdida no mal, se assume e tenta se elevar até o princípio original.Na sequência de importância das derivações está Deus em primeiro lugar, o intelecto em segundo e a alma em terceiro. Estes três primeiros formam o que pode ser apreendido pelo intelecto. Em seguida aparece o mundo físico, criado pela alma e que é composto de matéria, que é algo negativo para Plotino. Deus está nessa sequência, no patamar superior e a matéria está na parte mais baixa dessa visão. A matéria é o não ser, é o Mal, pois está privado de todo Bem. Ela é negativa, pois está desprovida de toda positividade que vem do Deus-Uno.Para Plotino, não existe um mundo do mal, algoz do mundo do bem. O mal nada tem de uma substância, não é senão o apequenamento da sabedoria e uma diminuição progressiva e contínua do bem. A alma prisioneira do mal seria somente uma alma que se ignora. O mal não é uma substância original, é antes o procurado pelo reflexo do bem, que fracamente ainda nela brilha. Assim, livrar-se do mal não é destruir um universo para dar lugar a outro, mas encontrar a si mesmo na sua verdade. A consciência para Plotino é a capacidade de encontrar a verdade dentro de si mesmo. É na consciência que vamos encontrar as mais elevadas verdades e a origem de todas as verdades, que é Deus. Ir em busca das verdades da consciência é fazer um caminho de regresso a nós mesmos, um caminho de volta para dentro de nós. Retornar a nós mesmos é fazer o caminho que vai nos levar a Deus. Para percorermos esse caminho devemos inicialmente nos tornar independentes da exterioridade corporal e, ato contínuo, nos purificar com as virtudes da inteligência e da sabedoria, do equilíbrio dos desejos, da coragem e da justiça. Essas virtudes devem ser comandadas pela razão e pelo intelecto, usando também como instrumentos o amor, a música e a filosofia. Para Plotino, mesmo o mal tem a sua razão de ser, pois sendo ele inevitável, significa que é necessário. Ele atribui ao mal também uma função ética, enxergando uma espécie de expiação por uma culpa original.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Estamos cercados de corrupção


Conceitualmente, a corrupção pode ser entendida como atentado ou transgressão às normas, princípios e valores, tantos os jurídicos quanto os sociais. A corrupção distorce a ética que deve reger uma sociedade, configurando-se sempre em uma lesão.

Segundo Pesquisa Datafolha realizada em agosto de 2009, que busca retratar a ética no Brasil, para 43% dos entrevistados, o termo se refere a um conjunto de práticas fixadas na esfera pública (governo e poder público). Para 21% está associada a comportamentos individuais de falta de ética, tais como, levar vantagens, traição, deslealdade. Associam o conceito a roubar bens/ dinheiro 19%, a atos ilícitos 4%, a crimes fiscais, relacionados a impostos 3%, a extorsão e suborno para a aquisição de valores pessoais 2%.

Em relação à percepção de corrupção em instituições brasileiras, 92% dos entrevistados elegeram os poderes Executivos e Legislativos, no âmbito federal e estadual, e os partidos políticos. Já 15% acreditam que não há corrupção no Poder Judiciário. Quanto maior a escolaridade e a renda familiar maior a desconfiança institucional e maior a admissibilidade de ter cometido infrações. Os menos educados e mais pobres demonstram maior rigorismo moral em todos os quesitos, no entanto, é uma variação que não agride a sensação de certa homogeneidade.

Observando os números da pesquisa, Renato Lessa, professor de teoria e filosofia política no Iuperj e na Universidade Federal Fluminense, fez a seguinte análise “ 74% concordam com a ideia de obediência à lei como algo superior ao interesse privado (adeptos de um imperativo categórico moral). Já apenas 56% concordam com o diagnóstico de que as pessoas estão dispostas a ‘tirar vantagens’ umas das outras (ou toma-las como meios, e não como fins).”

Schwantes, reconhecendo a fragilidade do caráter humano; sua tendência nata à deformação, atribui à crise moral o sintoma da ausência generalizada de caráter. E afirma: “São parasitos os que exploram a sociedade para benefício próprio, os que vivem à custa do Estado sem nada produzir, os que vegetam em lastimosa ociosidade. Tais indivíduos são como células cancerosas que roubam a vitalidade do organismo social.”

Tendo em vista a pesquisa, pode-se deduzir que não somos animais socráticos, para os quais o conhecimento do bem conduz necessariamente o seu cumprimento, senão vejamos: 83% admitiram ao menos uma prática ilegítima leve, média ou pesada, por exemplo, colas em prova ou concursos, receber troco a mais e não devolver, comprar produtos piratas, furar sinal de trânsito, dentre outras do mesmo nível ou mais graves.

Entre os entrevistados, 94% dizem ser errado oferecer propina e ser repreensível vender o voto, no entanto, 79% acreditam que eleitores vendem seus votos. Ressalte-se que apenas 13% admitem já ter trocado o voto por dinheiro, emprego ou presente e 33% concordam com a ideia que não se faz política sem corrupção.

Rui Barbosa ilustra bem a questão da corrupção política, primeiramente, aponta a política como: “ciência cujo único dogma inalterável é o dos princípios furta-cores, com um matiz para os nossos amigos e outro, oposto, para aqueles que não o são”. E nos fala do homem corrupto, como aquele que põe em senzala sua dignidade e caráter, todavia, ao mesmo passo, o descreve como um ser servil e confinado, longe da luz, do vento e oxigênio que tudo limpam e regeneram. Por fim, caracteriza a corruptibilidade como um círculo vicioso, de fluxo incessante. “Cada um dos que vão chegando, se aduba dos outros; com eles se cruza e recruza novas espécies lhe surgem do coito sutil; há hibridação em hibridação, de multiplicação em multiplicação, um mundo incalculável de malignidades se enxameia [...] os antigos colaboram com os recentes; do ajuntamento de uns e outros se vem gerando novos, pelo concurso destes com aqueles, crescem ao infinito, em número, em diversidade, em virulência aos contágios, as infecções, as pestes”.

Partindo do ano 410 da Era Cristã, encontramos na narrativa do teólogo e filósofo Santo Agostinho, a expressão: "Dentro de cada homem há uma guerra civil". Assim, pontua a necessidade de que o homem socializado possua um temor reverencial, o que por ele foi denominado como: “virtude civil”, um sentimento humano voltado a Deus, o que leva o homem à não “decair” e a afastar-se dos três maiores pecados (fraqueza do caráter humano): ânsia por dinheiro e bens materiais; desejo de poder e o desejo sexual.

Embora tenha vivido em época diversa de Santo Agostinho, Kant compara a ambição, o desejo de Poder e a inveja aos três maiores flagelos da humanidade, quais sejam, a guerra, a fome e a peste, em “Idea for a General History”.

Para Rousseau, o homem nasce bom e sem vícios, porém, a sociedade civilizada o corrompe. Thomas Hobbes, em “Leviatã”, nos sugere uma idéia antagônica, descreve um ser humano que, por natureza, é mau, sendo controlado (freado em suas paixões e vícios) por meio do medo institucionalizado, imposto pela sociedade em que está inserido.

Para, Lúcia Santaella houve para a humanidade um instante histórico e preciso, em que o homem deixou de ser simplesmente um primata e tornou-se o “Homo Sapiens”.

Edgar Morin, nos leva a aportar em uma tensa realidade, a de que a “igualdade” social, está repleta de desigualdades, umas são de fato, outras de direito, porém, ambas geram intolerâncias, antipatias, brigas, disputas. Morin sugere que das desigualdades e distinções nasce o poder político, que é a existência de uma dominação pré-constituída, que posteriormente, viria ser o Estado. Assim traçamos um paralelo com o Estado Moderno, de forma que, tal e qual foi no período da “hominização”, a vida social requer organização e cooperação de todos, contudo, o modelo coletivista onde tudo é bem de todos, possui um sistema de repartição de riquezas “mais ou menos” igualitários, com vantagem, sem dúvida, em favor do chefe.

Isto pode ser claramente demonstrado. No Brasil, por exemplo, perseguem-se mais os pequenos contraventores, como os vendedores de DVD pirata, do que os grandes corruptores de fato, como empreiteiros, que se beneficiam de um sistema de proteção. A soma anual dos negócios das empreiteiras de obras públicas dá um montante oceânico que nunca se viu levantado. Mas não dá manchetes e TV em campanha contra os sistemáticos superfaturamentos, conchavos fraudadores de licitações, corrupção de servidores governamentais, contra os crimes de colarinho branco.

A corrupção dos pequenos, normalmente, tem a ver com elementos socioeconômicos, com o sentimento da difícil ou nenhuma perspectiva de melhora, com a formação pessoal precária, entre outros estímulos. Já a corrupção graúda é uma categoria especial, obra de ganância que não se satisfaz nunca, é a imoralidade pura.

Por fim, resta dizer que, necessariamente, a corrupção é um processo dicotômico: intrínseco e extrínseco, pois, inicia-se no caráter e se exterioriza na sociedade, tornando-se uma patologia cultural.

No poder ou não, o homem pratica atos corruptos em prol de interesses particulares, a título de ilustração: a venda de votos, contribuindo para o ciclo vicioso da corrupção. Só uma sociedade consciente de seus direitos de cidadania, ciente de seu poder político e com aprimorado poder de escolha, conseguirá dar passos no sentido da evolução.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O mal inerente ao homem

Santo Agostinho, por meio do Furto das Peras, passagem do livro Confissões, ilustra a sua tese de que o homem é naturalmente mal. Ao criar a situação, o filósofo medieval escolhe um pecado, o furto, o objeto desse pecado, as peras, e demonstra que o homem só roubou por malícia, ou seja, por causa de sua maldade, uma vez que não havia nada nessas peras que justificassem o ato, já que elas não eram apetitosas, saborosas e, ainda, que ele já possuía da fruta. Será que Agostinho estava realmente certo ao afirmar essa possibilidade?
Segundo matéria veiculada na revista Época (A ciência e os assassinos), estudos recentes colocam em discussão a idéia até então existente de que o principal fator de desenvolvimento da psicopatia seria os traumas na educação e na criação. Segundo pesquisa desenvolvida pelo neurologista português António Damásio, crianças que sofrem lesões no cérebro frontal podem manifestar distúrbios comportamentais, sendo maior a chance de desenvolverem psicopatia ou outros desvios de comportamento. As conseqüências dessas lesões são mais graves em crianças que em adultos.
Os psicopatas são pessoas que agem somente em benefício próprio, não importando os meios utilizados para alcançar seus objetivos; que não possuem sentimento de culpa; dificilmente estabelecem laços afetivos com alguma pessoa e, quando estabelecem, é simplesmente por puro interesse. Indivíduos articulados, inteligentes e autoconfiantes, eles não tem ética, empatia, remorso ou sentido de culpa. Cerca de 1% da população mundial pode ser identificada como psicopata.
Ao escutarmos sobre psicopatas, é costume associar este transtorno de personalidade com figuras como Lindemberg, um jovem de 22 anos que, após um seqüestro que durou 100 horas, atirou e matou a ex-namorada; Suzane Richthofen, uma jovem rica que abriu a porta de sua casa para que o namorado e o irmão dele matassem seus pais, com pancadas de barras de ferro, e depois foi para o motel; ou ainda o caso de Mateus da Costa Meira, um ex-estudante de medicina que metralhou três pessoas e feriu outras quatro em uma sala de cinema. Entretanto, não é correto afirmar que todo psicopata é violento e comete maldades. Segundo Robert Hare, psicólogo canadense criador da escala usada para medir os graus de psicopatia, os psicopatas apresentam comportamentos que podem ser classificados de perversos, mas que, na maioria dos casos, tem por finalidade apenas tornar as coisas mais fáceis para eles, não importando se isso vai causar prejuízo ou tristeza a alguém.
O distúrbio na mente dos psicopatas acontece no sistema límbico, parte do cérebro responsável pelas emoções. Nessas pessoas, a atividade cerebral na região funciona menos do que deveria e, por isso, as emoções não afloram. Para essas pessoas, uma cena de estupro ou o sorriso de um bebê, por exemplo, não são diferentes, o que explica a sua crueldade. O escritor e assassino Jack Abbott descreveu: “Existem emoções que conheço apenas através de palavras e leitura. Eu posso até imaginar que sinto essas emoções, mas realmente não sinto.”
No Brasil, os psicopatas costumam ser considerados semi-imputáveis pela Justiça; os magistrados entendem que ales até podem ter consciência do caráter ilícito do que cometeram, mas não conseguem evitar a conduta que os levou a praticar o creme. Entretanto, segundo Robert Hare, os psicopatas são totalmente responsáveis pelos seus atos, já que ele entende e sabe que a sociedade considera errada aquela conduta, mas decide fazer mesmo assim; como faz uma escolha, deve ser responsabilizado pelos crimes que, por ventura, cometa. Segundo a corrente adotada no Brasil, quando tomamos uma decisão, fazemos ponderações intelectuais e emocionais para decidir; o psicopata decide apenas intelectualmente, porque não experimenta as emoções morais e, por isso, não entende as conseqüências de seus atos, não podendo ser responsabilizado da mesma maneira que as pessoas “normais”.
A sociedade atual, competitiva e com a idéia de que “você é o que você tem”, acaba por valorizar o comportamento psicopata. Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes Perigosas – o perigo mora ao lado: “Esses ‘predadores sociais’ com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo ou nível social. Trabalham, estudam, fazem carreiras, se casam, têm filhos, mas definitivamente não são como a maioria da população: aquelas a quem chamaríamos de ‘pessoas do bem’. Eles podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas não matam. E, exatamente por isso, permanecem por muito tempo ou até uma vida inteira sem serem descobertos ou diagnosticados. Por serem charmosos, eloqüentes, ‘inteligentes’ e sedutores costumam não levantar a menor suspeita de quem realmente são. Visam apenas o benefício próprio, almejam o poder e o status, engordam ilicitamente suas contas bancárias, são mentirosos contumazes, parasitas, chefes tiranos, pedófilos, líderes natos da maldade. Em casos extremos, os psicopatas matam a sangue-frio, com requintes de crueldade, sem medo e sem arrependimento. Porém, o que a sociedade desconhece é que os psicopatas, em sua grande maioria, não são assassinos e vivem como se fossem pessoas comuns.”

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

RELIGIÃO, UM MAL NA HUMANIDADE

Toda religião tem seu papel importante na humanidade. Muitas pessoas buscam refúgio e respostas a seus anseios em algo divino, superior. Cada religião possui líderes que professam sobre amor, caridade e benevolência. Entretanto, os homens não conseguem seguir os ensinamentos de seus líderes, não amam o próximo como a si mesmos.

Segundo Houaiss, religião é toda crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal. Há quem afirme que a religião é fundamental para a formação da sociedade, para orientar as pessoas a seguirem o caminho do bem. Mas o que seria o bem? A religião é uma fonte dogmatizadora de condutas. Muitas vezes priva os homens de agiram conforme sua consciência pura para seguirem leis morais que lhes foram impostas. Ao nascermos já temos determinados o conceito de certo e errado, bem e mal, os 10 mandamentos a serem seguidos, os 7 pecados a serem repugnados. Com tudo isso pronto não paramos para pensar no que realmente acreditamos ou assentimos como certo e errado, bem e mal, mas seguimos o que nos é posto por puro comodismo e rotina, afinal, há tradições essas condutas pré-determinadas pelo “divino” são tidas como as que devem ser seguidas.

A Igreja Católica, por exemplo, impôs um regime intelectual brutal que incapacitava a mente e todo o esforço intelectual e científico. Durante o século XIV a religião se tornou monopólio da Igreja, elevando o clero humano à condição divina e forçando homens a um sistema desumano de celibato, advogando idéias e opiniões sem base na lógica e no senso comum.

A religião nada mais é do que uma maneira de explicar de facilmente tudo aquilo que, na verdade, é muito complexo. É muito mais fácil dizer que um ser todo poderoso criou tudo o que conhecemos em seis dias, apenas com palavras mágicas do que explicar cientificamente o Big Bang e milhões de anos de evolução. É muito mais cômodo dizer que as pessoas que se comportam bem neste planeta, ao morrer, vão para um lugar perfeito, e reencontrar todas as pessoas boas com quem conviveu aqui, do que encarar a morte, ou tentar entender o que realmente é a vida.

O problema maior não está na religião em si, mas como os homens a utilizam. A princípio, isso tudo nada mais seria do que uma maneira de preencher vidas vazias e explicar coisas até então inexplicáveis, o que não é de todo ruim, se alguém não tivesse descoberto que isso é uma ótima forma de ganhar dinheiro e poder.

Na Idade Média, quando a Igreja Católica atingiu seu potencial máximo, foi onde ela mais abusou de seu poder sobre as mentes mais fracas. Além da Inquisição, onde eram mortos e castigados todos os considerados hereges, com a disseminação do temor ao divino, houve também a venda de indulgências, a omissão de fatos e descobertas científicas, entre inúmeros outros crimes. Não precisamos ir tão longe: hoje, enquanto de milhares de crianças morrem de fome, o Vaticano pode comprar um país inteiro e a Igreja Universal continua extorquindo seus fiéis para construir palacetes. Tudo em nome de Deus.

Diversos dogmas, ritos e deuses são pregados. Porém, temos dificuldade em aceitar o diferente. Algumas pessoas insistem em pensar que as suas religiões são as únicas, absolutas, insolúveis e corretíssimas. É um erro o fato de colocar em um espaço circunscrito a um templo a salvação da alma. Dizer que só os homens que professam tal fé e que freqüentam tal templo, terão a salvação de suas almas é representação de fundamentalismo religioso.

Do ponto de vista teológico, o fundamentalismo é uma manifestação religiosa onde os praticantes de uma determinada crença promovem a compreensão literal de sua literatura sagrada. Daí surge a intolerância e com isso as guerras santas. Será justo matar e morrer em nome de Alá? Como convencer um homem-bomba que a morte de inocentes não é justa, se ele só está fazendo o que acha que seu Deus determina?

O crente priva tudo o que transcende de qualquer argumentação. É muito difícil questionar a fé das pessoas, nem é essa a intenção, mas devemos reaprender a pensar os verdadeiros conceitos do mundo metafísico. As religiões instituíram a crença em Deus. O que a humanidade necessita é o conhecimento de Deus.

“Temos bastante religião para odiar-nos uns aos outros, mas não o bastante para amarmos uns aos outros.”
(Johnathan Swift - 1700)

domingo, 15 de novembro de 2009

DEPRESSÃO, UM MAL HÁ SÉCULOS

A depressão é uma doença que se caracteriza por um estado de humor persistentemente rebaixado, apresentando-se como tristeza, angústia ou sensação de vazio, e pela redução na capacidade de sentir satisfação ou vivenciar prazer. Apresenta causas múltiplas, como fatores genéticos, neuroquímicos, ambientais, sociais e pesicológicos.

Estima-se que cerca de 120 milhões de pessoas no mundo sofrem desse quadro de desordem psiquiátrica, que se encontra em quarto lugar entre as doenças no último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), com perspectivas de alcançar o segundo lugar em 2020.

Embora seja tratada por muitos como o mal do século, a depressão não é uma doença exclusivamente pós-moderna, sendo abordada, inclusive, por inúmeros filósofos ao longo da história da humanidade.

Na Antiguidade, já havia entre os gregos a idéia moderna de que as doenças da mente se conectam a disfunções corporais. A melancolia - denominação primeira do que hoje se entende por depressão - era diagnosticada por observação clínica, em detrimento de explicações mitológicas. Hipócrates, no século V a.C., definia a melancolia como uma afecção sem febre, na qual o espírito triste permanece sem razão fixado em uma mesma idéia, constantemente abatido, definição que se assemelha à dos quadors depressivos atuais. Para Aristóteles, os melancólicos eram pessoas que tinham mais espírito que as demais.

Na Idade Média, a ascenção do Cristianismo promoveu uma alteração na perspectiva das doenças mentais, agora associadas ao sobrenatural, à supertição e ao misticismo. Segundo Santo Agostinho, o homem é um ser diferente dos demais, pois dotado de razão. A perda dessa razão é um desfavor de Deus, a punição para uma alma pecadora. Portanto, a melancolia era um afastamento de tudo que era sagrado, sendo considerada até mesmo um pecado punido pela Inquisição.

Na Idade Moderna, a melancolia era definida principalmente pela presença de idéias delirantes. Nessa época, vários foram os contrastes entre os pensadores europeus, sendo até mesmo considerada por alguns como uma doença e uma qualidade da personalidade que indicava profundidade. Na Itália, Marsilio Ficino foi o filósofo que mais discutiu a depressão, definindo a melancolia como um fenômeno presente em todos os homens, em razão do seu anseio pelo grande e o eterno. Dizia que todo gênio é um melancólico. No século XVII, René Descartes inaugura o racionalismos moderno, segundo o qual o universo é explicado de forma mecânica e matemática. Nesse contexto, surge a convicção de que a razçao humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções, governadas e dominadas pela vontade orientada pelo intelecto. O dualismo cartesiano - dicotomia entre corpo e mente - promoveu uma mudança na perspectiva da depressão: a doença é aspecto físico; a mente, distinta do cérebro, apresenta dúvidas e inconsistências, mas não a doença. Novos sintomas passam a ser considerados, como a tristeza, amargor, gosto pela solidão e imobilidade.

Ainda na Idade Moderna, o século XVIII caracterizou-se pelo advento do Iluminismo, movimento de acelerado desenvolvimento da ciência e fé no poder da razão humana, que seria capaz de promover um progresso sem limites. Nesse contexto, surgem as primeiras teorias que fundamentam os pensamentos atuais, como as concepções de que as doenças mentais são hereditárias e de que a melancolia constitui uma alteração da função nervosa e não dos humores. O Romantismo, movimento de reação à razão apregoada pelo Iluminismo, promove a defesa do sentimento, imaginação e da mente voltada para o sulime, magnífico e comovedor. A depressão novamente se torna desejada. Para Immanuel Kant, o sublime sempre fora acompanhado por algum terror ou melancolia; na visão de Arthur Schopenhauer, o depressivo vive simplesmente porque tem um instinto básico e o trabalho constitui uma forma de dsitração dos homens de sua depressão essencial. Soren Kierkegard - precursor do Existencialismo - encarava a humanidade como melancólica.

No século XIX (marcado por descobertas na biologia, física, química, anatomia, neurologia e bioquímica), as doenças mentais - inclusive a depressão - foram relacionadas com patologia orgânica do cérebro e passaram a ser medicalizadas. Para Foucault, essa medicalização constitui parte de um plano de controle social; para Friedrich Nietzche, Deus está morto e nós que o matamos.

Finalmente, Na Idade Contemporânea, ocorreram progressos científicos em torno da compreensão e tratamento das enfermidades mentais, acarretando a consolidação da psiquiatria e modificações na forma de atendimento e assitência ao paciente psiquiátrico. Sigmund Freud definiu a melancolia como uma forma de luto que surge de uma sensação de perda da libido, tornando o ego pobre e vazio. Em 1950 houve a descoberta dos antidepressivos, a partir de pesquisas, ainda não conclusivas, acerca dos neurotransmissores que regulam as emoções.

Atualmente, a depressão, salvo exceções, é uma doença mental segundo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde e de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, recebendo hoje abordagens científicas, como a médica, a psicanalítica e a cognitivista, além das visões filosóficas e religiosas que ao longo da história da humanidade sempre permearam a questão.

sábado, 14 de novembro de 2009

O suicídio como mal da humanidade



Atitude secular, utilizada há vários anos por aqueles que desejam extinguir a própria vida por ato deliberado, o suicídio é encarado hoje como um dos grandes males da humanidade. Isso porque a angústia de viver, apesar de presente a muitos séculos, vem atingindo escalas cada vez maiores, principalmente em países desenvolvidos.

As reações ao suicídio, porém, variam de cultura para cultura e se ligam vários aspectos como a um elevado grau de desespero, sofrimento e perturbação emocional, sentimental e até mesmo como uma atitude que sela a honra, como por exemplo os suicídios de Adolf Hitler e Getúlio Vargas.

Na filosofia, esse tema é tratado sob vários aspectos e pontos de vista. Isso porque os próprios filósofos passam por inúmeros momentos de angústia e desespero, e muitos deles encerram a vida dessa maneira. O que se vê, porém, é que a grande maioria considera o suicídio um grande, senão o maior, problema filosófico. Já dizia o filósofo Albert Camus que “o suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo, decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia.”

Platão acreditava que o suicídio se constitui numa injustiça praticada contra si mesmo, uma vez que se extingue com o único bem verdadeiramente certo que se possui, a vida. Essa idéia de bem verdadeiramente certo veio de Descartes, que afirmava que a vida sempre oferece mais bens do que males e que suicidar-se é fazer mal uso do livre arbítrio.

Interessante, também, se mostra o pensamento de alguns filósofos como Spinoza, que apesar de pregar que o suicídio não é um ato de virtude, uma vez que visa destruir a essência do homem, seu poder e sua tendência fundamental, acabou por suicidar-se, deixando evidente que o suicídio não é uma atitude daqueles que o enxergam como uma certo ou belo e sim como a única alternativa encontrada para escapar de uma situação considerada insuportável, ou seja, o suicida não vê alternativa senão aquela.

Segundo estudos realizados, os jovens são particularmente vítimas deste problema e ligam-se a esses números, principalmente, a perda de dignidade perante à sociedade ou um escândalo que venha a abalar a estrutura moral daquela pessoa perante os outros. Assim, atualmente, as maiores taxas de suicídio encontram-se em países cuja sociedade é baseada em condutas estritamente definidas e rigorosas. O Japão é o recordista nas taxas de suicídio, seguido pela Rússia.

Já o Brasil apresenta um das menores médias do mundo e o Código Penal Brasileiro, apesar de não punir o suicídio tentado (por acreditar ser um problema de saúde pública), pune o induzimento, instigação e auxílio ao suicídio, em seu art. 122. Assim, deixa claro o Estado de que sua posição é de combate a essa atitude. Segue essa tendência a grande maioria dos Estados, principalmente os ocidentais, e são motivados, mesmo que indiretamente pela idéia de Rousseau de que o suicídio é um roubo feito ao gênero humano, pois sempre fica uma boa ação por fazer uma vez que todo homem é útil à humanidade pelo simples fato de existir.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A RELIGIÃO USADA PARA COMBATER O MAL

Diante da análise e da leitura atenta de vários textos anteriores, vislumbra-se que muitos são os males presentes na realidade em que vive a humanidade. Sendo assin, vale procurarmos uma maneira de combatê-los, ou pelo menos, tentar torná-los menos frequentes em nosso dia-a-dia.

Não é surpresa dizer que a maioria da população busca refúgio de seus medos e dos acontecimentos malígnos em uma das diversas religiões existente no mundo.

Como disse o professor Jorge Hessen: "A maldade dos homens sempre inquietou os pensadores dos mais diversos campos do saber e da ação humana: filosofia, ciência, arte, religião. A exemplo de Hanna Arendt, filósofa judia, que estudou as questões do mal e suas teses estão ínsitas no livro Eichmann em Jerusalém, que analisa o julgamento do verdugo nazista, mentor da morte de milhares de pessoas. Tendo como referencial o caso Eichmann, Hanna Arendt justifica que o mal pode tornar-se banal e difundir-se pela sociedade como um fungo, porém apenas em sua superfície. Para ela as raízes do mal não estão definitivamente instaladas no coração do homem e por não conseguirem penetrá-lo profundamente a ponto de fazer nele morada, podem ser extirpadas.

Para muitos o mal seria mais forte que o Bem, e que os Espíritos do mal estariam conseguindo derrotar os Benfeitores espirituais, frustrando-Lhes os desígnios superiores. Em que pese a antiga tradição de tais conceitos, são insustentáveis e falsos, diríamos mesmo, absurdos. O mal não é criação do Todo-Poderoso como imaginam algumas pessoas, especialmente aquelas que vivem distanciadas do entendimento evangélico. O mal é transitório, não tem raízes, o bem é permanente. O mal definha à medida que o bem se estabelece.

A humanidade vem nos últimos anos passando por transformações preocupantes. A influência da matéria sobre a vida social cresce incessantemente.Vivenciamos instantes em que se aguça o individualismo enodoando o tecido social, e nos vendavais da tecnologia somos remetidos aos acirramentos das desigualdades e isolamentos, estabelecendo-se níveis de conforto e exclusão sociais nunca antes experimentados. Atualmente, consegue-se a compra pela Internet, assiste-se ao filme no shopping, trafega-se pelas avenidas em veículos luxuosos. Vive-se sem convivência fraterna, numa doentia soledade a despeito de um mundo superpovoado de encarnados. Em que pese para os mais otimistas a convicção do alvorecer da Nova Era espiritual que vem chegando, ocupando espaço, no contexto dos avanços da ciência que impulsiona a massa humana para a conquista da paz. E ante os paradoxos acredita-se na existência do elo entre a fé e a razão, entre a ciência e a religião, entre verdade física e verdade metafísica, em que o instinto cede em face da razão, e a sábia consciência direciona os sentimentos sublimes de amor, justiça e caridade.

O mal não é invencível, pelo contrário. O homem possui na sua natureza a flama do bem. Somente quando se distancia da sua origem divina é que se compraz com o mal. Para se livrar das ações negativas dos malfeitores espirituais, basta sintonizar-se com seu lado superior buscando fazer o bem aos outros: em pensamentos, palavras e ações.

Allan Kardec registra em Obras Póstumas "Deus não criou o mal; foi o homem que o produziu pelo abuso que fez dos dons de Deus, em virtude de seu livre arbítrio." Diante da banalização do mal, conforme anota Arendt, que se espalha pelo mundo dos homens, resta-nos individual e coletivamente nos lançarmos ao bom combate, conforme o Apóstolo dos gentios, que é constante, exigindo-nos disciplina e perseverança.

Para que possamos vislumbrar um mundo sem angústias e nem problemas sociais, livres das misérias econômicas e políticas, apelemos para o amor incondicional, que possui os recursos eficazes para a conciliação, o perdão, a transformação moral, fomentando o bem para o progresso o que concorre para enriquecer nossa sensibilidade, aprimorar nosso caráter, fazer que se nos desabrochem novas faculdades, o que vale dizer, se dilatem nossos gozos e aumente nossa felicidade."

Por fim, independente de qual religião seguimos, se somos capazes de praticar tanto mal, somos então, naturalmente, dotados da mesma força para combater essas atitudes. Para isso, basta que mudemos de objetivos e passemos a focar no todo, no bem comum e na felicidade coletiva, a fim de possamos viver em um mundo mais unido e mais pacífico.
Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?