quarta-feira, 30 de setembro de 2009

As conseqüências nefastas da idealização da figura do mal

Fechemos os olhos e idealizemos o mal em pessoa. O que nos vem à mente? O criminoso. E qual a imagem do criminoso? Uma pessoa pobre, mal vestida, violenta, que conversa por meio de gírias e mora na favela. Agora voltemos ao tempo, em plena segunda guerra mundial e perguntemos aos alemães: qual é a figura do mal em pessoa? A resposta: o judeu. O motivo? Os mais fúteis possíveis: serem ricos, egoístas, e se acharem superiores aos outros.

Os dois exemplos acima tiveram e têm conseqüências diversas. No holocausto, milhares de judeus foram assassinados de forma cruel e brutal, não havendo no decorrer da história tamanha desumanidade (vide enquete) e desrespeito ao próximo, já a figura do criminoso tida como única e exemplar, tem como conseqüência o preconceito absurdo daquele que tem a sua cultura e modo de viver peculiar, ou na pior das hipóteses, o que não teve a oportunidade de mostrar o seu potencial e fora abandonado pelo Estado. Inevitável porém, a conseqüência igual e nefasta em ambos os casos: a discriminação. Mas afinal, porque os judeus? Porque esse juízo de valor sobre o criminoso? Como é esse processo de martirização?

A resposta para essa idealização do mal ou esse "pre-conceito" existente em relação a algum povo/pessoa/fato/situação é devido ao fenômeno que a sociologia denomina como representações sociais. Segundo Durkheim, o processo da representação social faz com que pessoas de um determinado grupo já considerem como naturais certas idéias, passando a entendê-las como inerentes a si próprios, e levando é claro a um juízo de valor na maioria das vezes perverso. No caso dos judeus, essa representação surgiu através da força política e ideológica transmitida ao povo alemão via os fortes e eficazes meios de comunicações nazistas (propaganda, discursos, imagens) o que levou ao enraizamento de vez da idéia do judeu como o mal. Já em relação ao criminoso, deve-se ao discurso fácil e dominante, reforçado é claro, pela mídia que sempre nos passa de forma tendenciosa as notícias de crimes cometidos por pobres, negros, e moradores do subúrbio, como se fossem sempre os únicos a cometê-los.

Desse modo, devemos sempre ficar cautelosos a certas idéias ou valores que tendem a algo. Especialmente para aqueles da área jurídica, na qual a atenção deve ser redobrada, pois em seu dia-a-dia profissional haverá várias situações conflituosas, bem como lhe dar com pessoas de diversas crenças, raças, religiões e ideologias.

Portanto, o ideal é sempre se colocar na figura do próximo, pois é muito difícil reparar as conseqüências do mal cometidas a alguém.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Da dualidade humana consubstanciada pela sua história paradoxal





Desde os primórdios da humanidade a convivência com o mal tem acompanhado a sua existência.

É notável que durante vários períodos históricos as maiores atrocidades foram cometidas dentro de um contexto extremamente cotidiano.

É o que procurei demonstrar com ajuda da exibição dos breves trechos do grandioso vídeo "Nós que aqui estamos, por vós esperamos."

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Deus e a origem do mal

"Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas" (Is 45.7)

O ser humano tem a natureza de sempre procurar um culpado e responsabilizá-lo pelas coisas "ruins" que ocorrem ao longo de nossa existência, e tal fato não é diferente quando se debate acerca da origem do mal na nossa sociedade.
O versículo que introduz este texto demonstra claramente que o Senhor reclama ser o criador de todas as coisas, inclusive do mal. Diante disto, nos vemos em uma situação complicada. Devemos atribuir o surgimento do mal a Deus, o criador do universo e a representação máxima do bem? Ou ao homem, um ser falho e cheio de desejos mundanos? Aliás, o que é o mal? São alguns dos questionamentos que procurei debater nesta exposição.
O ser humano, ao ser criado por Deus, recebeu uma qualidade denominada livre arbítrio. Contudo, tal liberdade, uma qualidade positiva, fez surgir os excessos, e tais excessos trouxeram o mal ao Universo. Ou seja, numa análise objetiva, podemos afirmar que o mal surgiu, indiretamente, pelo mau uso do poder bom do livre arbítrio. Sendo assim, Deus é responsável por fazer o mal tornar-se possível, mas as criaturas são as responsáveis por torná-lo real.
Os crentes (e aqui uso o termo crente para aqueles que crêem em Deus) não devem concordar que Deus não criou todas as coisas, pois estariam negando sua soberania. Entretanto, ao admitir que Ele é o responsável pela existência de todas as coisas, e ao admitir o mal como parte dessas coisas, reconhecemos, então, que Deus causou o mal. Entretanto, afirmam os crentes que o mal não é uma coisa ou substância, mas uma a privação do bem ou de alguma coisa boa criada por Deus, ou seja, não é algo por si só, vem sempre acompanhado por outra coisa.
Todos os dias Deus nos dá a oportunidade de escolhermos qual caminho seguir. Nos é dado a escolha de fazermos o bem, ou negá-lo e, consequentemente, praticar o mal. Diariamente nossos princípios cristãos são bombardeados por diversas possibilidades de tirar proveito de algo, tomar alguma atitude errada, ou até mesmo de permitirmos que alguém próximo a nós pratique o mal.E aí está a intervenção divina. Ele quer que façamos as melhores escolhas todos os dias, quer que aprendamos que existem limites. O bem maior não seria alcançado se não tivéssemos a opção de praticar o mal, pois não exigiria nenhum sacrifício. Por todo o exposto, concluo que Deus quer que suas criaturas resistam às chances que lhes são dadas para praticar o mal, e, utilizando-se da liberdade que lhes foi concedida, escolham o bem por livre e espontânea vontade.

domingo, 27 de setembro de 2009

Freud explica?

Em filosofia, o desejo é uma tensão em direção a um fim considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação. É uma tendência algumas vezes consciente, outras vezes inconsciente ou reprimida. Lascivia pode ser caracterizado como um comportamento desregrado com relação aos prazeres do sexo. Já a libido (do latim, significando "desejo" ou "anseio") é caracterizada como a energia aproveitável para os instintos da vida. De acordo com Freud, o ser humano apresenta uma fonte de energia separada para cada um dos instintos gerais.
As regras que regem a sociedade e os impulsos humanos sempre foram conflituosos. Nossos impulsos, muitas vezes irracionais podem determinar nossos pensamentos, ações, sonhos e são capazes de fazer aflorar no ser humano várias das suas necessidades básicas que foram reprimidas, como o instinto sexual. Já Santo Agostinho foi o primeiro a distinguir três tipos de desejos, que podem também estarem reprimidos : a libido sciendi, desejo de conhecimento, a libido sentiendi, desejo sensual em sentido mais amplo, e a libido dominendi, desejo de dominar.
Perante essa exposição podemos passar para a verificação da relação entre esses desejos e o “mal” que aterrorizou e aterroriza a humanidade. O “mal” ,dessa forma, sempre está correlacionado com o desejo de um ser humano, seja ele material, sexual, ou sobre qualquer outra manifestação. O que leva um indivíduo como Adolf Hitler a exterminar 6 milhões de pessoas nada mais é que um desejo de ser soberano, de se glorificar a “suposta” raça pura ariana. O que leva um homicida a matar, nada mais é que um desejo, que pode ter sido reprimido em sua infância, e que só dessa forma conseguiu se livrar ou satisfaze-lo. O que leva um indivíduo a praticar a pedosexualidade ( também conhecida como pedofilia), nada mais é que um desejo sexual reprimido causado por um desvio mental no qual se busca a satisfação de sua lascívia por meios censurados pela sociedade.
Até na Mitologia podemos ver um exemplo em que o desejo de um homem causou uma das mais homéricas guerras, a Guerra de Tróia. Nessa guerra, Menelau, esposo traido de Helena, à qual fugiu com Páris para a cidade de Troia, mobilizou centenas de naus numa guerra que matou e escravizou milhares de pessoas, para recuperar a sua esposa Helena. Tudo isso pelo desejo manifestado de Páris por uma mulher que não lhe pertencia, traindo assim o desejo de Menelau de manter a sua esposa ao seu lado.
Desde os primórdios da civilização o homem quis ter ou ser o que o outro tem ou é, seja no campo afetivo quanto material. Estabeleceu relações de poder, daí as formações das guerras, das traições e outras manifestações que põem em risco a estabilidade tão almejada entre as pessoas. A religião e moral da sociedade também ajudam nesse processo de fazer os desejos reprimidos virem à tona. Muitas atitudes censuradas, seja pela religião , seja pela moral da sociedade, podem ser desmascaradas ao se depararem com situações fáticas que exijam de nós um comportamento segundo essas regras, e quem deixa o desejo falar mais alto e vai contra esse sistema politicamente correto, pode acabar tendo atitudes não esperadas pela sociedade, tornando-se um homicida, um estuprador ou qualquer outro ser humano desvirtuado por um desejo que sempre esteve reprimido, mas que de alguma forma conseguiu se manifestar da pior maneira possivel.
Concluindo, afirmo que o mal na humanidade é o desejo, que de forma reprimida e mal intencionada pode causar danos irreparáveis e desastrosos à toda sociedade
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sábado, 26 de setembro de 2009

John Locke e a Violação da Propriedade

Um dos principais teóricos do contrato social foi John Locke. Para compreendê-lo é preciso entender o momento histórico em que ele produziu sua obra. Ele viveu durante a revolução Inglesa , exilando-se na Holanda por um período e depois retornando a Inglaterra quando Guilherme de Orange assumiu o trono. Esse período de incerteza política e transformações ajudam o entendimento de sua obra.

Locke era um jus naturalista, acreditava que o direito do soberano advinha da natureza, do chamado contrato social, entretanto esse governante tinha responsabilidades . Ele deveria garantir a propriedade, vida e liberdade, pois estes valores assim como o próprio direito do governante era um direito natural do homem. Cabe observar que em um período de tanta incerteza as garantias defendidas por Locke resumem a insegurança de toda a população. Além disso, ele também acreditava que havia limites para a ação do ser humano e esses limites eram o outro, a partir do momento em que a liberdade de um interferisse na do outro esse havia cometido um abuso. Se essa violação fosse ocorre-se por parte do governante, ela geraria o direito de se rebelar contra ele. Esta ultima idéia é um fundamento para as revoluções liberais que ocorreram na Europa nos sec. XVIII e XIX, pois ao prever uma argumentação jurídica que legitime uma revolução ele aceita a idéia de mudança.

Para Locke o mal era a violação da propriedade, que pode ser pode ser entendida em sentido amplo, como todos os direitos naturais. O mal, ou seja, a violação da propriedade justificaria a revolta contra o governante ou a aplicação do direito a quem o houvesse cometido. O direito impunha limites a ação do homem que não poderia praticar o mal, a violação da propriedade alheia, para seu interesse pois essa era inviolável. Sua concepção da legalidade do governo é a de um contrato, que só tem validade se as duas partes respeitarem-se, portanto o mal para ele está relacionado à violação dos direitos naturais. Esse conceito de mal é válido em quase todas as sociedades, principalmente as capitalistas, pois para todas as pessoas a maior violação que lhes pode ser acometida é a perca da propriedade.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Teodicéia e a Liberdade Humana

O termo Teodicéia, criado pelo filósofo alemão Gottfried Leibniz em 1710 e que em grego significa “justiça de Deus”, pode ser definido como uma tentativa de justificar, utilizando-se somente da razão humana, o comportamento de Deus com o objetivo de encontrar uma resposta ao problema do mal. Para tanto, Leibniz parte da ideia de Deus como um ser cognitivo perfeito, e que, portanto, não poderia agir contra a sua própria essência, uma vez que cairia em contradição. Assim sendo, Deus, a partir de critérios lógicos fundamentais, criou o melhor dos mundos possíveis. Dessa forma, como explicar a presença do mal em um mundo criado por um Deus racional e bondoso?

Segundo Leibniz, a presença do mal é verificada de três formas: o mal metafísico, o mal moral e o mal físico. O primeiro deles, o mal metafísico, parte do pressuposto de que somente Deus é um ser perfeito, logo, todos os demais seres, por serem dotados de imperfeições nas suas essências, não podem ser puramente bons como Deus. O mal metafísico, seguindo o raciocínio do filósofo, consequentemente gera outro mal, o moral, que é facilmente percebido no nosso cotidiano, principalmente em atitudes vingativas, quando ocorre por exemplo troca de tiros entre policiais e bandidos em uma favela, culminando com a morte de uma pessoa inocente, fazendo com que o parente da vítima, por ódio aos policiais, termine por ingressar na prática de crimes e acabe roubando uma outra pessoa que, por sua vez, passa a querer uma maior punição aos criminosos como forma de retaliação, gerando um ciclo. O último mal, o físico, é também consequência do mal moral, como forma de sua punição.

Não obstante todas as atrocidades presentes no mundo, Deus nos concebeu o melhor dos mundos possíveis, de modo que o mal que existe no mundo é o mínimo necessário para a maximização do bem. Tal qual o conceito da filosofia chinesa do “yin yang”, bem e mal são opostos complementares, ambos com grande importância. Se um deixasse de existir, o outro também desaparecia, restando o nada, assim como só é possível dizer que existe compaixão a partir da existência da ideia de sofrimento, que só existe coragem porque existe covardia, e que só existe felicidade por existir tristeza.

Leibniz então, acredita que Deus só permite a existência do mal como condição para atingir bens muito maiores, e é por isso que nos foi conferido o lívre-arbítrio. O mal é intrínseco ao ser humano, mas ele existe apenas de forma a permitir que o homem seja livre nas suas escolhas, tendo em vista que a existência do mal em nós é melhor do que a falta de liberdade.

Portanto, concluo o texto dizendo que não cabe a nós, seres humanos, escolhermos se iremos nascer e viver em épocas boas, de paz e harmonia, ou em épocas de guerra, violência e crueldade. Cabe a nós, tão somente, escolher o que fazer com o tempo que nos é dado. São as nossas escolhas que definem a nossa vida, a nossa personalidade e o nosso caráter. São essas escolhas que, não sendo feitas de forma racional e responsável, conduzem o ser humano à prática do mal. É a liberdade de opções que nos permite escolher se queremos ser 99% bons e 1% maus, ou se queremos ser mais maus do que bons. A ideia é bem aquela presente no vídeo abaixo, trecho do filme “Matrix”, em que podemos decidir para que lado nossas atitudes influenciarão nessa balança. Se insistiremos em influenciá-la positivamente sabendo que o mal nunca irá deixar de existir, ou se influenciaremos de forma negativa, ou então se iremos abdicar de fazer nossas de escolhas.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Os níveis primitivos do mal nos contos de fada

(Baseado em palestra de Marie-Louise von Franz sobre o tema- Extraído do livro de mesma autora “A sombra e o mal nos contos de fada” ed.Paulus)

A autora acima citada apresenta uma análise sobre a questão do mal nos contos de fada. Segue, para isto, o marco teórico da psicologia analítica de Carl. G. Jung. Apesar de ser uma reflexão profunda e com alto teor de cientificismo na área da psicologia me aventuro a tecer comentários e um breve resumo do que consiste a narrativa.
A sociedade humana revela tendência basicamente ética, ou seja, há, segundo a autora, uma predisposição da psique humana à determinadas reações e avaliações éticas do ser frente suas próprias ações. Estas reações éticas que podem ser conscientes ou inconscientes se baseiam em várias motivações externas, mas uma que merece grande destaque é o código moral coletivo que varia de nação para nação. Não existe um código moral coletivo único para toda a sociedade humana, isto porque a construção da ética para cada sociedade depende de fatores que influenciem sua vida. Em uma sociedade com escassez de água, por exemplo, tomar um longo e relaxante banho de 30 minutos pode ser considerado anti-ético. Veja: Em uma sociedade com baixa natalidade de seres humanos do sexo masculino, a bigamia ou poligamia pode se tornar uma prática consoante com a ética, à medida que forem ficando escassos os homens em idade reprodutiva, considerando a inclinação instintiva do ser humano à reprodução.
Os contos de fada refletem o código moral coletivo da sociedade que os cria, e por isto, têm maior valor nesta sociedade do que em outras. É através deles que a oralidade transmite ao longo das gerações o código moral coletivo local.
A questão do mal é complexa. Nesta análise se olha apenas para os níveis primitivos do mal, ou seja, o mal se manifestando através do instinto e do inconsciente, sentidos da natureza animal do ser humano. Os contos de fada são histórias simples mas cheias de significados ocultos. Uma das coisas que em geral abordam é a questão do mal, com a finalidade de manter na sociedade o conhecimento de o que se considera naquele código moral coletivo como mal. Em alguns casos os contos induzem à enfrentar o mal, em outros, a fugir dele.
Fato é que as histórias se contrabalançam. Elas refletem as tendências compensatórias do inconsciente. O inconsciente humano tende a contrabalançar o real consciente. Assim, as reflexões éticas são proporcionadas, em geral pela atuação do inconsciente frente ao consciente, gerando o sentimento de arrependimento ou remorso, o que pode ser mais facilmente notado nos sonhos. Por exemplo, um político que na noite do dia em que assina um contrato no qual se envolve em corrupção, sonha com a ocasião de assinatura deste contrato, entretanto ao consumar o ato, no sonho, vê suas mãos ficando escuras envolvidas por lama. Nem sempre, infelizmente, o contrapeso ético é forte o suficiente para impedir o indivíduo de reincidir na pratica do que sua sociedade considera como mal.
Importante ressaltar que há sempre dois lados nos níveis primitivos do ser, o bom e o ruim, o sim e o não, ou como se queira diferenciar estas metades complementares. Hedwid boyé realizou uma pesquisa trabalhando com sonhos de presos de alta periculosidade e constatou em seu livro:“Pessoas com uma grande sombra” que as ovelhas mais negras têm as sombras mais brancas. Ou seja, muitas vezes os assassinos do mundo real apresentavam em seus sonhos o desejo de serem pessoas corretas e bondosas. Alguns até conseguiam inverter seu comportamento internalizando o comportamento assassino e externando o bem.
Concluo, portanto que o mal é um conceito relativo, mas intimamente ligado aos níveis primitivos do ser humano. Cada cultura pode ter um conceito de mal e ele normalmente estará atrelado ao conceito do antiético, refletido em costumes e contos de fada e outras histórias infantis. O que o texto em análise nos proporciona é refletir como os fenômenos exteriores, que interagem com níveis primitivos de raciocínio, como os próprios instintos de sobrevivência no habitat e reprodução da espécie, influem na formação cultural de um povo. O que é mal estará sempre em contraposição com o que é bom (evidentemente), mas interessante notar como o que é mal é sempre o que ameaça o status quo, a continuidade, de um sistema que tem garantido a sobrevivência do grupo social.

“Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” -(João 17:15)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

De que lado está o "bem" e/ou o "mal"!?

Da Leitura contrario sensu da Idéia de bem supremo de Platão e Aristóteles

A presente análise tem como objetivo percorrer as teses elaboradas por Platão e Aristóteles acerca do "bem supremo", e a partir da realização de uma leitura contrario sensu chegar a noção do " mal supremo" e universal.

Ambos os filósofos buscaram definir o bem supremo, porém de formas e maneiras antagônicas.

Schaerer, estudioso da obra platônica, define muito bem a teoria deste mestre. Para ele o bem é irredutível a toda definição, porque ele trancende o ser.

Analisando este objeto à luz da perspectiva hipotético-platônica , encontramos o ápice da metafísica (bem) e da teodicéia (o Bem Supremo), Platão considerava o bem de forma relativa, e portanto acreditava que não seria possível encontrar o bem absoluto, não é posssível atingir o absoluto pelo relativo. No entanto, ainda assim, buscava incessantemente pelo bem supremo.

Da mesma maneira, é possível ver o mal. Uma concepção relativa, cuja qualificação e caracterização está sujeita ao nossos conhecimentos e experências éticas e políticas, que variam de cidadão para cidadão. E também, da mesma forma que o bem, o mal supremo não pode ser explicado, entretanto ao contrário desse, o mesmo deveria ser evitado.

Já a teoria da redução empírico-aristotélica, tem seu ápice no realismo (o bem e o ser) e no materialismo (prática do bem) . Aristóteles, ao contrário de Platão, acreditava que de nada valeria saber o que é o bem em sí, ou transcendente, ou real, ou imutável, se não fosse possível atingí-lo. Para ele, o " bem" é intínseco à ação do homem. Não acreditava na contemplação do "Bem supremo".

Ora, a partir da leitura contrario sensu de Aristóteles, é fácil perceber que da mesma forma que o bem, o mal é intrínseco à ação humana, é parte da dualidade e complexidade do nosso ser.

A partir disso, concluímos que tanto o bem quanto o mal permeiam a vida e a essência humana. A busca pelo bem supremo está intimamente ligada à ética, à cultura e moral da sociedade, assim como a busca pela explicação do mal supremo e da sua origem, ao qual procuramos afastar e extirpar de nós mesmos e da nossa sociedade.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Até que ponto o mal é mal e o bem é bem?

Inicialmente devemos ter em vista os apontamentos de Sigmund Freud em sua obra “O mal estar na civilização” acerca das relações entre as pessoas, em que o mesmo retrata o interesse como base das relações humanas. Tomemos um casal de namorados extremamente apaixonados como exemplo. Esse casal provavelmente se casará e os interesses com certeza serão a base dessa relação, sendo estes: a boa companhia proporcionada, a amizade, a complementação afetiva e a realização de vontades através da relação sexual. Entretanto podemos possuir relações em que os interesses sejam tanto de caráter positivo quanto de caráter negativo, tendo como base as convenções sociais.

Ao analisar os três eventos de nossa enquete, provavelmente teremos diferentes pontos de vista quanto ao mal ocorrido. Analisando os Campos de Concentração Nazistas, como o de Auschwitz, diríamos que foi algo desumano, ou seja, uma barbárie. Entretanto apesar de todo o mal praticado, houve um grande avanço nos estudos referentes à genética. Avanços estes que somente foram possíveis devido aos experimentos conduzidos com os povos judeus e demais prisioneiros dos campos. A Bomba de Hiroshima, por sua vez, causou milhares de mortes e levou várias pessoas a adoecer com a poluição da poeira nuclear residual. Porém não teríamos hoje a energia nuclear das usinas, caso não tivesse sido desenvolvida essa tecnologia, uma vez que ambas foram desenvolvidas conjuntamente. Já o atentado terrorista de 11 de setembro ao World Trade Center chocou toda a população mundial com a brutalidade na qual foi exercido, mas todo o choque causado resultou em um grande crescimento econômico, estabelecendo os Estados Unidos da América como líder incontestável da economia mundial nos meses e anos que se seguiram.

Tendo esses aspectos como base de raciocínio, pode-se evidenciar que o mal sempre existirá, contanto que sempre exista o bem. O que representa o mal ou o bem sempre dependerá de uma análise do interesse em jogo e do referencial adotado como base, assim como nas ciências exatas se faz necessário à adoção de um referencial para se definir conceitos e teorias. Dentro das ciências exatas, bem como da ciência mãe que é a filosofia, a incerteza será sempre um mal, pois irá gerar a insegurança de uma teoria, entretanto essa incerteza também será sempre um bem, uma vez que ela será o motor de novas buscas e afirmação de novas teorias.

A morte tem um aspecto curioso que não podemos deixar de mencionar. Ela sempre terá o mal em sua essência, sendo esta o fim da vida e fonte de sofrimento. Mas também poderá ser uma fonte de riqueza e de poder, como ocorre no regime absolutista de governo. O falecimento do rei implica em renovação, transferência do poder de governar e da riqueza do pai para o filho, bem como ocorre na sucessão das famílias em geral. Dessa forma, a morte pode também ser fruto do interesse alheio. Foi mencionada acima uma reflexão acerca da incerteza, sendo esta enorme fonte de angustia do ser humano. Entretanto mesmo a morte possuindo seus diversos aspectos negativos, será esta a única certeza do ser humano. Após essa exposição poderíamos parafrasear a tão famosa expressão atribuída a Sócrates, sendo esta “Só sei que nada sei” para Só sei que irei morrer.

Por fim, se analisarmos todos esses apontamentos feitos, chegamos à conclusão que o mal nunca será absoluto e sempre terá uma relação direta com o bem. Cumpre observar que o mal surge para que possa ser superado pelo bem.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A banalidade do mal de Hannah Arendt

O termo “banalidade do mal” foi consagrado por Hannah Arendt em seu livro Eichmann em Jerusalém (1963). Inspirado no julgamento de Adolf Eichmann em 1961 o qual Arendt acompanhou em Jerusalém como correspondente do Jornal New Yorker, foi uma obra que gerou grande controvérsia, principalmente entre a comunidade judaica, devido à extensão das questões morais levantadas pela autora.

Adolf Eichmann (1906/1962) foi um oficial da Alemanha Nazista e membro da SS (Schutzstaffel), um dos grandes responsáveis pela logística do extermínio de milhões de pessoas durante o holocausto com a chamada “Solução Final” (Endlösung), organizou a identificação e o transporte de pessoas para diferentes campos de concentração, sendo conhecido frequentemente como o “Executor Chefe” do Terceiro Reich. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, dentre a captura pelas tropas norte americanas e fugas, Eichmann acabou por refugiar-se em 1950 na Argentina, onde, no dia 11 de maio de 1960 foi raptado por agentes secretos israelitas da Mossad (Serviços Secretos Israelitas) e levado para Israel onde foi julgado em 1961 e condenado a morte, a qual foi culminada com seu enforcamento em junho de 1962.

No livro de Hannah Arendt, os debates acerca do julgamento presenciado pela autora, em síntese, se polarizam em três questões principais, quais sejam: (1) o retrato feito por ela de Eichmann como um indivíduo banal, (2) as notas dela sobre os conselhos judeus europeus e o papel desses conselhos na solução final nazista, (3) e as discussões sobre a condução do processo com as questões jurídicas levantadas e os interesses políticos postos em jogo.

O termo “banalidade do mal” é utilizado demonstrando a falta de profundidade evidente que caracterizou o culpado, de forma que o mal inegável e extremo ao qual organizou seus atos não podia ser atribuído nem às suas convicções ideológicas sólidas, nem às suas motivações especificamente malignas. Para Arendt, falar de banalidade do mal seria abordar “(...) algo bastante fatual, o fenômeno dos atos maus cometidos em proporções gigantescas – atos cuja raiz não iremos encontrar em uma espécie de maldade, patologia ou convicção ideológica do agente (ARENDT. A vida do espírito: o pensar, o querer, o julgar.). A banalidade para ela está no fato do mal não possuir profundidade nem dimensão demoníaca, “(...) desafia o pensamento, porque o pensamento tenta atingir a profundidade, tocar as raízes, e no momento em que se ocupa do mal, ele se frustra por que não encontra nada. Eis sua banalidade.”
Sendo assim, conclui-se com base no caso Eichmann e na análise da banalidade do mal que o abandono da necessidade e afastamento da realidade, em conjunto, preparam o caminho para um mal tão banal, que chega a ser cometido por indivíduos comuns. Dessa forma, a “ausência de pensamento” dos indivíduos os levam a sujeitar-se incapazes de resistir ao mundo que a ideologia constrói, levando tais pessoas a basearem-se em regras de conduta de determinadas sociedade e época, caracterizando a idéia da autora de que o mal não possui profundidade ou dimensão maligna.

domingo, 20 de setembro de 2009

O bem o e mal, de Dostoievski a Nietzsche

Cabe-se de pronto ressaltar, para melhor compreender possíveis semelhanças nas linhas de raciocínio, que Dostoievski, russo, foi uma das maiores influências literárias de Nietzsche.
Dostoievski criou o personagem chamado niilista radical, que é inspirado no homem- idéia. Pode- se entender o referido personagem como um ser ideológico, que, em função de uma causa totalmente desvinculado de convicções religiosas, vive, mata e morre. Ele busca trabalhar o problema do bem o do mal numa perspectiva metafísica.
Na obra crime e castigo, o personagem, que mirava ser um super- homem, após ter cometido um crime, tem sua consciência cristã incomodada constantemente, até que confessa o mesmo, sendo esta uma reação diferente da que ele próprio imaginara para si, ele não conseguiu ter paz. O que o incomodara, era uma espécie de castigo interior, uma dúvida moral gigantesca. Todavia, a idéia da obra é que o homem extraordinário deveria ser um sujeito sem remorsos e que teria a capacidade de fazer de tudo para atingir seus objetivos.
Foi justamente a idéia deste homem extraordinário, que influenciou Nietzsche a pensar o homem moderno. No passo em que Dostoievski vê preocupado e angustiado o “homem extraordinário”, Nietzsche descobre nele o homem forte, que cria seus próprios valores e instaura seu destino, não sendo então submisso às normas.
Depreende-se das obras de Dostoievski que em sua visão, o mundo humano é assinalado pelo mal, sendo este o produto da vontade e liberdade do homem. Ressalta- se ainda que muitas vezes o homem tem prazer na pratica do mal. Portanto o homem somente consegue chegar ao bem, na medida em que leva até o fim o processo autodestrutivo do mal.
Na idéia genealógica de Nietzsche sobre a moral chega-se à conclusão de que as práticas de altruísmo destroem o amor de si, demonstrando os instintos e produzindo gerações de fracos.
Fato é que tais autores trabalham o problema do mal, e a busca de explicações de porque, e até mesmo de definições sobre bem e mal. Todavia na história da humanidade, o homem por diversas vezes mostrou- se como a criatura mais perversa sobre a face da terra, em exemplos gritantes como no lançamento das bombas atômicas, em Auschwitz, como também algumas vezes mostrou- se e mostra- se como a criatura mais dócil do universo, realizando imensas demonstrações da mais pura solidariedade, como na união por socorro a pessoas que sofrem perdas inestimáveis decorrentes de enchentes, catástrofes naturais, quando doa um órgão, ou até mesmo sangue para um necessitado.
Enfim, talvez seja mesmo esta dicotomia a que o homem esteja fadado a viver. Uma relação dual em tudo que existe é quase sempre notável, então talvez o homem precise mesmo de viver no constante equilíbrio do bem e do mal, para tentar eternamente terminar a construção da obra perfeita.

sábado, 19 de setembro de 2009

O problema do mal segundo Santo Agostinho

O problema do mal tem um caráter filosófico,existencial e moral que atinge a todos.Constantemente somos bombardeados com noticias sobre guerras,intolerância, crueldades...
Historicamente, muito já se questionou sobre a concepção do mal,diferentes concepções já tentaram responder a essas questões: o mal existe? Qual a sua origem?Qual a sua justificativa?
Agostinho, filósofo medieval, aborda essa questão sob o ponto de vista cristão, na qual Deus é o Ser Supremo que detém a verdade e preceitos que o homem poderá seguir, para que seja bom e consequentemente alcance a felicidade. Em seu livro ´´O livre- arbítrio´´, ele tenta explicar que a origem do mal está no livre –arbítrio concedido por Deus. Mesmo sendo o livre-arbítrio um bem dado por Deus, é por ele que o homem tem a possibilidade de pecar. O mal surge quando o homem, influenciado pelos seus desejos e paixões, opta por não praticar o bem, faz,portanto, mau uso do seu livre-arbítrio.
Na concepção de Agostinho, Deus concebeu o livre-arbítrio ao homem para que o ele livremente possa seguir as prerrogativas de Deus. Porém, os desejos e as paixões impedem um bom uso da razão humana, que opta por não praticar o bem.
Não há, segundo Agostinho, um ser transcendente que faz com que o mal aconteça,está inerente ao homem,que constantemente se deixa levar pelos desejos. Para ele ,é da natureza humana praticar o mal.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Santo Agostinho

Ao falarmos do problema do mal, estamos diante de um conceito bem amplo, tanto no dicionário como filosoficamente. Ao falarmos de mal automaticamente relacionamos ao oposto de o que é bem, portanto devemos entender o que é o bem. A definição de bem por sua vez dependerá de cada ser, em o que ele acredita e em como ele se sente. Nesta linha de pensamento nunca chegaríamos ao que é o mal ou até mesmo o bem.
Muitos filósofos trataram da relação entre o bem e o mal, para Santo Agostinho, Deus criou o bem, logo todas as coisas são boas por natureza, e ao tratar do mal o divide em três categorias o mal em metafísico, físico e moral. Ele nega a realidade metafísica do mal na idéia platônica onde o mal não é um ser, mas sim a ausência de outro ser. O mal é a ausência de bem, é uma privação, uma carência. E ao não ser alguma coisa positiva, não pode ter vindo de Deus. Não se trata de uma negação da existência do mal, mas sim na existência aonde não existe o bem. O mal físico é visto como parte do ser, proveniente da própria natureza e atinge a perfeição do ser e não é muito trabalhado por santo Agostinho. O mau moral por sua vez, é uma falha do homem que ao receber o livre arbítrio escolhe se render as paixões do que a vontade de Deus.
Ao abandonar o maniqueísmo, (forma bipolar entre bem e mal, ambos diretamente e igualmente responsáveis pelo universo. Sua principal característica é a concepção dualista do mundo como fusão de espírito e matéria, que representam respectivamente o bem e o mal.) e convertendo-se ao catolicismo, o mau moral passa a ser representado pelo pecado original, que desvirtuou o homem. Aqui percebemos uma manifestação do seu estudo maniqueísta, a oposição e a presença de duas esferas de força agindo sobre a mente humana, e sendo deus a personificação do bem, o homem que se entrega aos pecados da carne, vão para o inferno onde encontram a personificação do mal, o Diabo.
Santo Agostinho debate o bem e o mal num âmbito religioso e por mais que ele tenha se convertido ao catolicismo a filosofia de ainda apresenta traços do maniqueísmo, uma vez que mesmo acreditando que tudo criado por Deus é bom, ele não deixa de dizer que o mal existe, mesmo que na inexistência das coisas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O retorno ao “estado de natureza” de Thomas Hobbes

Ao longo de toda a história da humanidade, a sociedade tem se deparado com inúmeros acontecimentos aterrorizantes, e na maioria das vezes, causados pelo próprio ser humano. Segundo o site da folha on line (http://www.folhaonline.com.br/), podemos citar alguns desses acontecimentos mais recentes: no último dia 4 de setembro, um bombardeio aéreo das forças da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), sob o comando de oficiais alemães, matou 30 civis e 69 militantes do grupo islâmico radical Taleban; autoridades informaram, neste domingo (13/09/2009), que médicos tiveram que amputar a perna de um garoto indiano de 13 anos que foi jogado de um trem em movimento por um policial. A suspeita é de que o menino, que vendia comida no trem, não tinha dinheiro para pagar suborno ao agente; prefeito da oposição é morto a tiros na Venezuela; o britânico Mark Kane, de 19 anos, foi filmado colocando um gato em uma bolsa, inalando maconha de um cachimbo improvisado e depois soprando a fumaça dentro do saco onde o gato estava. Então, ele fechava o saco e o girava. O vídeo foi enviado pela Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade aos Animais (RSPCA) à justiça; foi preso no dia 17 de agosto de 2009 o médico Roger Abdelmassih, um dos mais famosos especialistas em reprodução assistida no país. O médico teve a prisão preventiva decretada pela justiça após cerca de 60 mulheres afirmarem ter sofrido crimes sexuais durante consultas. Diante de tais fatos, somos levados a refletir se, como costumava dizer o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), “o homem é o lobo do próprio homem” (homo homini lupus). Talvez, como dizia Hobbes, a maldade seja inerente ao homem, faça parte da essência humana e, por isso o ser humano nunca deixe de praticá-la, exceto por uma questão de puro e simples egoísmo, quando for conveniente a si mesmo.


Estabelecendo-se um paralelo com a filosofia hobbesiana, segundo a qual é indispensável a existência de um contrato entre homens e Estado, para que aqueles transfiram seu poder de governar a si próprios a um terceiro (o Estado, no caso), para que esse governe a todos, impondo ordem, segurança e direção à conturbada vida social, de modo que o permanente “estado de guerra” possa ser, ao menos, um pouco contido; a sociedade contemporânea também faz uso de uma espécie de contrato, não aquele concebido por Hobbes no Estado Absolutista, mas um contrato em que indivíduos e Estado possuem direitos e obrigações, tal contrato é “imposto” aos indivíduos, os quais não tem direito de decidir se querem ou não aderi-lo. O contrato da atualidade também visa a convivência harmônica em sociedade uma vez que conforme exposto acima a maldade talvez faça parte da essência do homem, nas suas diversas faces: egoísmo, sarcasmo, vontade de fazer mal ao outro, prejudicar o próximo para si beneficiar, frieza, revolta, sentimentos de ódio, vingança e inveja, dentre inúmeras outras; e se, ao ser humano a maldade não é inerente, ela se encontra, com certeza, muito próxima a essa definição. Entretanto, cabe aqui diferenciar o contrato moderno do contrato contemporâneo na medida em que naquele, o Estado impunha ordem, segurança e neste, a ordem e a segurança, apesar de serem deveres do Estado e de não serem mais impostas por ele, e sim determinadas por forças normativas feitas pela própria sociedade, muitas vezes não são garantidas por esse mesmo Estado. Ora, se aos indivíduos cabe um contrato de cumprimento “compulsório” e que se não cumprido, são impostas sanções às pessoas infratoras, ao Estado infrator nada cabe. A sociedade inúmeras vezes tem que se adaptar às novas regras que acaba por gerar uma mudança na vida das pessoas, uma mudança de hábitos como assim desencadeou a “lei seca”, é a famosa “diligência normativa” e o Estado, em contrapartida não cumpre a sua parte e não sofre conseqüências diretas por isso, na verdade, as conseqüências recaem sobre a própria sociedade que sofre duplamente por isso: primeiro, por estar vinculada a um “contrato” e não poder rompê-lo e segundo, por não deixar de viver no que poderia ser chamado de, assim chamou Hobbes, “estado de guerra”. Dessarte, os indivíduos além de terem a sua “maldade” coibida e, por isso, não poderem agir como “bem entenderem” diante das circunstâncias, ainda são obrigados a conviver e sofrer com a maldade paralela, não constrangida e não vigiada pelo Estado. Sendo assim, a tendência das pessoas é se fechar em suas casas, fazer a sua segurança particular, desacreditar do Estado e da força desse “contrato” e, por que não, liberarem o seu instinto do mal até o ponto em que voltariam a viver em seu mais puro “estado de natureza”.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Inatividade Desastrosa

A cena é típica: judeus esqueléticos de semblante cadavérico e fisionomia doentia, amontoados num cubículo escuro. A crueldade do holocausto é bem conhecida através de superproduções cinematográficas, documentários e livros. Pode-se inclusive perceber que já não causa mais tanto espanto e horror. Mas a perplexidade diante do reconhecimento das proporções as quais podem atingir a maldade humana ainda se faz presente, mesmo que de maneira menos acentuada.

Após a Segunda Guerra Mundial, para explicar esse fenômeno foi necessário revisitar as concepções do mal até então conhecidas. Nesse momento, ganha destaque o conceito de mal radical proposto por Kant, muito antes da 2ª Grande Guerra e que, quando foi apresentada sofreu diversas críticas. Porém, mais tarde, muitos apontaram esse seu conceito como uma “profecia” dos eventos que o mundo ainda estava por assistir. Para Kant, o homem tem uma propensão inata para o mal e o bem decorre da livre determinação da razão. Quando se abandona essa liberdade, o homem se inclina para o mal na busca de sua satisfação imediata.
Hannah Arendt, por sua vez, na tentativa de compreender as práticas nazistas, retoma o mal radical de Kant e lhe dá uma dimensão mais abrangente já que discorda que seja ele uma "vontade pervertida que poderia ser explicada por motivos compreensíveis." Para ela, o fenômeno totalitário só pode ser explicado de acordo com o processo pelo qual os homens se tornaram “supérfluos”, meros instrumentos destes regimes incapacitados de pensar. Foi essa incapacidade que impossibilitou o movimento de se colocar no lugar do outro, gerando a inércia da população diante das atrocidades cometidas. Constrói-se a percepção da banalidade do mal.

Hoje, já não mais existem campos de extermínio. Nos meios intelectuais impera um discurso de respeito ao próximo e suas diferenças. A eliminação de vidas através de uma atuação positiva do Estado é valorada negativamente e, mesmo em situações de conflitos internacionais, tal atitude é vista com reservas. Porém, a capacidade do homem de se preocupar efetivamente com o próximo na vida cotidiana vem se mostrando cada dia mais fraca. Embora ainda seja mascarada por algumas atividades assistencialistas, que o homem comum delas se utiliza como alívio para própria consciência.

Contudo, a habilidade para ver a humanidade como um todo e se sentir responsável por pelo menos uma parcela considerável deve ser questionada. No Brasil, para nos atermos apenas a um exemplo mais próximo, a alienação perante os problemas sociais é observada no ínfimo envolvimento político da maioria esmagadora da população. É um círculo vicioso no qual a classe média se preocupa primeiramente em obter seu lugar ao sol, os mais ricos em manter a posição dominante e os menos favorecidos em sobreviver. De modo que o que não atinge diretamente o indivíduo, não merece ser alvo da sua atenção. Os idealistas, mais do que nunca, são vistos como seres iludidos pela perspectiva de que podem ajudar a atenuar de maneira significativa os problemas sociais, mesmo que seja em apenas um ramo de seus desdobramentos.

O afastamento da realidade que vai além dos próprios interesses provoca uma inércia geral que, guardadas as devidas proporções (que não são tão diferentes assim!), em muito se assemelha à população alemã durante a 2ª Grande Guerra. As milhares de pessoas que morrem todos os anos vítimas de violência urbana, falta de atendimento médico e fome chegam a números alarmantes, mas que nem de perto desperta a perplexidade e a aversão que os campos de concentração causaram no pós-guerra.

Seria possível então afirmar que as mazelas da sociedade brasileira, mais do que representações do mal, são repercussões de um mal maior (ou mal radical como compreendido por Hannah Arendt) existentes nas presentes gerações que são capazes elaborar inovações tecnológicas surpreendentes e impossibilitadas de ver no outro algo além de obstáculos ou instrumentos para o alcance de seus objetivos individuais.

De minha parte, continuo esperando que a limitada classe de idealistas consiga inspirar nos demais a necessidade de se questionar a situação atual da humanidade nos seus vários aspectos a fim de buscar benefícios que fujam da esfera meramente individual.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Vivemos em uma Democracia?

Este blog se destina a tratar sobre o problema do mal na humanidade. Dada a imensidão do tema, escolhi abordar neste texto a democracia no Brasil, tendo por base os ensinamentos de Marilena Chauí em seu Livro “Convite à Filosofia”. Esta professora e filósofa contemporânea se dedicou à analise da realidade brasileira e concluiu que “a democracia ainda está por ser inventada” neste país.
Inicialmente, deve-se informar que o conceito de democracia para a maioria da população está atrelado ao poder de voto, à existência de partidos políticos e à divisão de poderes. Em contraponto, o autoritarismo é caracterizado pela tomada do poder por militares, pela censura e limitação da liberdade de expressão e pela inexistência, repressão ou restrição da atuação de partidos políticos
Todavia, devemos analisar se democracia está realmente restrita a este conceito apresentado.
A supramencionada filósofa demonstra que esta visão de estarmos vivendo em uma democracia é obtusa. Ela aduz que a sociedade brasileira vive o autoritarismo social, posto que esta sociedade é dividida hierarquicamente, separando-se as pessoas superiores e as inferiores, sendo as primeiras as detentoras de poder. Assim, não há que se falar na prática da igualdade como direito, uma vez que vigora a discriminação religiosa, o machismo, o racismo e a desigualdade econômica.
Com efeito, a camada dominante é movida por interesses e estes, porque não se transformam em direitos, tornam-se privilégios de alguns. Todavia, como ensina a eminente filósofa, “a democracia é criação e garantia de direitos e nossa sociedade, polarizada entre a carência e o privilégio, não consegue ser democrática, pois não encontra meios para isso. Na esfera política, os representantes, em lugar de cumprir o mandato que lhes foi dado pelos representados, surgem como chefes, mandantes, detentores de favores e poderes, submetendo os representados, transformando-os em clientes que recebem favores dos mandantes”. Daí, pode-se deduzir que ainda vigora nas relações sociais brasileiras, em certa medida, práticas coronelistas, famosas por terem significativa presença na política desde longas datas.
Ora, isso é democracia? O que vivemos não seria um mal? Mal de acreditarmos viver em um país democrático o quanto na verdade vivemos em um país autoritário. E pior, autoritarismo este disfarçado pela mídia e camuflado aos olhos de grande parte da cega camada social subjugada.
Como sustenta Marilena Chauí “As leis, porque exprimem ou os privilégios dos poderosos ou a vontade pessoal dos governantes, não são vistas como expressão de direitos nem de vontades e decisões públicas coletivas. O poder judiciário aparece como misterioso, envolto num saber incompreensível, e, por outro lado, ineficiente (a impunidade não reina, vive solta) e que a única relação possível com ela seja a da transgressão (o famoso “jeitinho”).”
Desta forma, tem-se que a própria condição social de grande parte da população contribui para que esta seja cada vez mais subjugada aos mandos e desmandos da classe dominante, a qual não raramente preocupa-se apenas com o aumento exponencial de seu poder e de privilégios. É de se ressaltar que, como classe dominante, além do poderio econômico, possui também o domínio dos meios de comunicação e de difusão de informações, os quais muito contribuem para a difusão de ideologias que, de forma velada, auxiliam cada vez mais a manutenção do status quo.
Daí, tem-se a pretensa sensação de ser o Brasil um país verdadeiramente democrático, fazendo-se, pois, uma restrição da abrangência de tal conceito- Democracia- para que a situação existente se enquadre ao que é difundido e objetivado pelas ideologias dominantes.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Quando o mal é um bem necessário

Quando perguntaram a Aristóteles, um racionalista, sobre que código moral deveriam pautar suas vidas, disse: “não posso dar-lhes um código, observem os homens melhores e mais sábios que encontrarem e imite-os.”
O voto é um instrumento de observação e, por consequência, de escolha. Ver o escolhido como sábio pode levar à idolatria e esta ao desarranjo. Desarranjado e sob holofotes constantes, o inconsciente humano assimila estes exemplos e com certeza não são estes senhores, “ternos” e de gravatas, que o filósofo sugere seguir.
Filosofia antiga ou não, o papel da sabedoria prática é fazer passar os bons hábitos para um plano onde se necessita de virtudes autênticas. Insano acreditar, fora de uma linha socrática, que o fato de conhecer o bem é razão para acreditar que este estaria sendo praticado. Não para o povo, melhor para a conveniência das mentes que legislam no estado brasileiro acreditarem que são indivíduos de bens e terem nesta crença um alicerce para a satisfação de seus interesses individuais, corporativos e curralescos, vestidos que estão da tenebrosa túnica da ética do possível, dando-se por saciados assim.
Na política brasileira, especificamente no Congresso Nacional, os cacos estão aos ares, mas uma sociedade precisa de instituições que harmonizem os interesses individuais e coletivos, sendo assim um “mal necessário”. À luz do voto então, cabe ao cidadão a esperança de que os “daímons” sobressaltem da túnica e não somente alertem aos “senhores de terno e gravata” a fazerem o apropriado, como dizia Sócrates, mas os dêem coragem para, no silêncio do bem inato, agirem corretamente e pelo povo.
Então,a quem um racionalista e intelectual como Aristóteles escolheria como modelo e exemplo no quadro legislativo do Estado brasileiro? O menos pior, talvez...
E o povo, não educado por conveniência curralesca, quem seguiria? Aquele que faz promessas irreais ou até mesmo espere por um apocalipse...
E, assim, o futuro caminha para continuar imitando as origens e o passado da política brasileira!

domingo, 13 de setembro de 2009

Uma abordagem histórica do mal

Todos os dias, tomamos conhecimento de crimes e comportamentos brutais, principalmente por meio do noticiário. Casos de violência contra crianças, mulheres e idosos, assassinatos, tortura, têm sido praticados cotidianamente, o que atesta um problema constante na história da humanidade: o problema do mal. Embora de difícil definição, podemos entender o mal a partir do conceito formulado pelo filósofo Denis Lerrer Rosenfield, para quem “o mal é toda ação voltada para eliminar as condições de uma existência racional”.
Ao longo da história ocidental, podemos constatar que houve mudanças em relação ao entendimento sobre o que poderia ser considerado como mal. Inúmeras barbaridades praticadas em outras épocas tidas como normais, são consideradas inaceitáveis atualmente, como por exemplo, o canibalismo e o assassinato de recém-nascidos por causa de seus defeitos físicos. Tais avanços, porém, estão longe de significar que a maldade possa ser definitivamente contornada. Ela continua presente em toda parte do mundo, do âmbito doméstico ao cenário político internacional, verificada, por exemplo, no terrorismo da Al Qaeda e das Farc, dentre outros. A principal diferença é que nesse último tipo, o mal se esconde nas razões de estado e em supostas causas nobres que visam justificá-lo, o que não ocorre com o mal doméstico que não se utiliza de disfarces, o que o torna mais assustador.
Passemos agora para uma abordagem histórica sobre o problema do mal, verificando como ele foi abordado ao longo do tempo. Desde os primórdios da humanidade, acreditava-se que o mal era desígnio dos deuses, não havendo, portanto, nada a se fazer a não ser resignar-se. Estudos indicam que foi o filósofo grego Xenófanes de Cólofon (560 – 478 a.C) o primeiro a se insurgir contra os deuses. Concluiu que o mal perpassa todo o universo e da sua força nem eles mesmos escapam. Foi, porém, o cristianismo que trabalhou com maior profundidade o tema. Os filósofos gregos não se dedicaram muito sobre a noção do mal. O estoicismo, escola de pensamento grega e latina que pregava a aceitação serena do mundo, praticamente negava a noção do mal. Epicteto, um dos mestres estóicos, dizia que “a natureza do mal não existe no mundo, pois não se concebe um fim destinado a não se realizar”. O estoicismo pregava a boa vida, reconciliada com o mundo tal como ele é. Aristóteles, principalmente em sua obra “Ética a Nicômaco”, preocupava-se, sobretudo, com a virtude. Durante muito tempo a filosofia considerou que a concepção de mal seria um problema da teologia.
O tratamento religioso sobre o assunto enfoca, principalmente, as escolhas individuais. O mal é visto como fruto do orgulho do homem. Ao se considerar auto-suficiente, uma espécie de divindade, a pessoa se vê no direito de humilhar, prejudicar, matar a outra. O problema colocado para os religiosos é a resposta para a seguinte pergunta: se Deus é bom, por que coisas más acontecem também às pessoas boas e justas? Santo Agostinho, pensador do cristianismo, dizia que “se bons e maus sofrem igualmente, é para que os primeiros possam provar sua virtude”. Para ele, é a atitude piedosa diante do infortúnio é que faz a diferença.
O mal da natureza também influenciou nesse tipo de questionamento. Desastres naturais como o terremoto de Lisboa em 1755 fizeram com que os filósofos começassem a acreditar que o universo (ou Deus) era mau, abalando idéias anteriores, como as de Leibniz, segundo as quais o universo era organizado em torno do bem. Posteriormente, o naturalista inglês Charles Darwin, pai da teoria da evolução, refutou a idéia de uma natureza criada por um Deus bondoso, citando o exemplo de uma vespa que paralisa outros insetos para que sejam comidos vivos por suas larvas, concluindo que um Deus bondoso jamais teria criado uma criatura assim.
Agora, se Leibniz defende Deus do problema do mal para assegurar que Ele é responsável pela ordem no mundo, o primeiro filósofo a defender o Criador, mas eximi-lo do mal que existe no mundo foi Rousseau. Até Rousseau, havia duas alternativas para o problema do mal: ou existe ou não há resposta para ele. Para Rousseau, o mal existe e a responsável por sua existência é a humanidade.
Kant foi um dos filósofos que começou a trabalhar uma dimensão laica do mal. Em sua obra “A Religião nos Limites da Simples Razão”, tratou do chamado “mal radical”, conceito intimamente ligado ao problema da liberdade e de uma predisposição natural do homem a inclinar-se a ceder às suas apetições. Tal conotação influenciou a filósofa Hannah Arendt, que após a Segunda Guerra Mundial, com o holocausto nazista, trabalhou uma nova concepção de mal, no contexto das perversas ideologias do totalitarismo. Sua conhecida expressão “Banalidade do mal” teve por objetivo indicar que alguns indivíduos agem dentro das regras do sistema a que pertencem sem racionalizar sobre seus atos.
A partir da segunda metade do século XX, as explicações começaram a se tornar objeto de estudo da sociologia, das ciências biológicas e da psicologia. A figura do psicopata (pessoa que entende a diferença entre o bem e o mal, mas é desprovida de emoções ligadas ao senso moral, como a piedade), por exemplo, passou a ser bastante pesquisada. Com a ajuda de técnicas como a ressonância magnética funcional, é possível mapear as áreas do cérebro responsáveis pelas decisões morais, que no caso dos psicopatas, irão apresentar atividade bastante reduzida. As causas do distúrbio ainda não são compreendidas e como bem afirma o neurocientista Jorge Moll Neto, do Instituto de Pesquisa da Rede Lans – D’Or, do Rio de Janeiro, “o mal é um conceito humano, social. A neurociência não pode dizer o que é ou não mau”. Não sendo, portanto, todo mal fruto de uma falha neuroquímica, a psicologia social, buscou explicar o mal em grande escala, como ocorre nos genocídios e no tratamento dos prisioneiros de guerra. Ao estudar o poder de algumas organizações coletivas de induzirem pessoas comuns a colaborarem com atos criminosos, constatou-se algo não muito agradável para a natureza humana: a tendência das pessoas de se conformar à pressão do grupo social pode levá-las, com relativa facilidade, a praticarem crimes.
Diante dessa breve análise histórica, podemos perceber que o mal já passou por várias conotações e entendimentos ao longo dos anos. Várias são as ferramentas usadas para tentar inibi-lo. O Direito é uma delas, estabelecendo crimes e punições cada vez mais severas, acompanhando as necessidades de tutela conforme o contexto em que se vive. Em alguns casos ele se mostra eficaz no combate ao mal. Em outros, não. O que constatamos é que nenhuma ferramenta, nenhuma teoria, nenhuma explicação é apta o suficiente para amenizar os traumas que o mal, em todas as suas formas, tem deixado na vida de suas inúmeras vítimas, restando, talvez uma única certeza: o problema do mal é irreversível.

sábado, 12 de setembro de 2009

Ai vai um toque de Rousseau

Não sei se deixa a desejar, mas Rousseau, inveterado otimista, acreditava no homem como essencialmente bom, o caráter essencialmente político-pedagógico de suas obras demosntrava a importância que dava à educação. Para ele a infância é o momento essencial para educação, devendo-se levar em conta a ingenuidade e a inconsciência que marcariam a falta da mentalidade adulta para uma adequada educação voltadada para o método natural.
Diante de tal, não sei se podemos julgar com tanto rigor aqueles que por 72 virgens matam tantos outros, não poderiamos nos comover tanto com as pobres mães chorando a morte de seus terroristas, afinal, são elas mesmas, que desde a mais tenra idade passam tais valores e ideologias, a opressão socio-cultural que sofrem, pode-se equiparar a lavagem cerebral. O núcleo familiar, de fundamental importância para douto filósofo só confirma nossos temores, a globalização e a desinformação, além do fanatismo cria aqueles que vem, paulatinamente nos destruindo.
O paradoxo liberdade/autoridade em sua obra mostra-se utópica em nossa sociedade, o respeito, moral e amor ao próximo que vislumbramos em suas idéias parecem não se adaptar aos preceitos ideológicos atuais. O capitalismo desenfreado não permite igualdade entre os mais diversos povos, a massificação, a uniformização, a especialização e, sobretudo, a alienação atual desfiguram valores etico-morais. Como fruto de tudo isso, temos o horror.
Assim, o que seria falar do mau? E do bom? Será que a época do horror vai acabar? Como conciliar tantos contrastes? Para Rousseau o bom é inerente ao homem, mas como acreditar nisso vendo tanta injustiça e opressão?
Parece piegas, até porque tirado de uma novela, mas isso não tira toda sua poesia e razão, assim afirmar que o bem e o mal devem andar juntas para que se possa optar entre elas, mais do que nunca se enquadra no contexto atual. É preciso seguir a risca a idéia desse otimista, que vê no próprio homem a solução para o mal. Devemos investir na educação, nos jovens, eliminando todas as distorções. Assim, quando ouvirmos que Guerra Santa está sendo travada, que esta não seja contra as diferentes religiões ou ideologias, mas que lute contra a IGNORÂNCIA, contra a DESIGUALDADE, contra a INTOLERÂNCIA e o PRECONCEITO. Que o termo faça jus a sua origem, que a JIHAD seja uma guerra, uma luta, mas como preceituado por Santo Agostinho, que ela seja JUSTA.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Um quê de Nietzsche

A data de hoje, desde o ano de 2001, traz consigo uma pesada atmosfera; um quê de olhar para os lados e, principalmente, para o alto. Um quê de desconfiança, de pesar, de gosto e desgosto. Ousado, porém não errôneo, seria dizer que o dia de hoje carrega um quê de Nietzsche.

Filósofo nascido a 15 de outubro de 1844, Friedrich Wilhelm Nietzsche foi filho de pai delicado e culto, de quem ficou órfão muito novo – aos cinco anos perdeu não só o pai como, também, seu irmão. Por conta dessas perdas, se mudou de Röcken – sua cidade natal – ,com a família, para a pequena cidade de Naumburg, onde cresceu com sua mãe, duas tias e sua avó. Neto de avós pastores presbiterianos, pensava em seguir a mesma carreira. Na escola, seus amigos o chamavam de “pequeno pastor”. Vida calma, família, até onde se sabe, estruturada; Nietzsche gozou de uma infância feliz e tranquila.

Tranquila também era uma nação que, no ano de 2001, estava, há muito, no topo do mundo: os Estados Unidos da América no Norte seguiam na feliz posição de potência mundial. Economia forte, status de poder e de oportunidades, o capitalismo seguia como sua maior fonte de inspiração e, principalmente, riqueza. E, ainda que se trate de uma nação relativamente nova, pode-se dizer que também tinha tido sua infância feliz - ainda que tenha levado cicatrizes, como a Guerra se Secessão e a queda da bolsa de 1929, os tombos não comprometeram seu feliz crescimento.

Nietzsche seguiu se enveredando pelo mundo acadêmico-filosófico ao longo da vida. Estudou Teologia e Filosofia, mas abandonou tais estudos para de se dedicar à Filologia. Porém seu interesse aos estudos filosóficos retornaria de forma intensa e definitiva ao conhecer os pensamentos de um certo filósofo que se tornou uma de suas maiores fontes de estudo: a leitura de “O Mundo como Vontade e Representação” de Schopenhauer (1788-1860) , e seu característico ateísmo, acabaram por revolucionar o pensamento e o filosofar de Nietzsche – algo havia mudado em sua, até então, pacata e ilustre história.

De volta ao ano de 2001, mais precisamente numa manhã de terça feira. Aparentemente mais um dia de rotinas e afazeres e, sendo assim, manhã de acordar cedo e correr contra o tempo - que a modernidade fez significar dinheiro. O funcionamento da vida seguia na mais fosca trivialidade, bem como o funcionamento dos prédios comerciais e aeroportos: às 07:58, horário de Boston, sobe aos ares um Boeing 767 da United Airlines, transportando 65 passageiros, com destino a Los Angeles; às 07:59 segue, da mesma companhia de aviação e com o mesmo destino, outro Boeing 767, este levando 92 pessoas em seu interior. Às oito horas, ritmo frenético na capital do mundo – New York. Trabalhadores adentram o gigante complexo do World Trade Center para fazer, cada um, a sua parte e manter o coração do mundo pulsando.08:01 é a vez da American Airlines levar 46 pessoas à São Francisco em um Boeing 757, ação repetida às 08:10, com 66 pessoas e tendo como destino Los Angeles. Apesar de vôos aparentemente comuns, a peculiaridade de alguns de seus passageiros e a fidelidade destes para com seus objetivos garantiriam que uma mudança drástica acabaria por ocorrer em sua, até então, também pacata e ilustre história.

Após a influência de Schopenhauer, Nietzsche começou a criticar, de forma cada vez mais veemente, o pensamento socrático-platônico e especialmente o cristianismo, o que faria de forma cada vez mais incisiva até o fim da vida. Apesar de ter rompido com aquele que o fez voltar aos estudos da Filosofia, seguiu cada vez mais cético, ríspido e só. Dizia que o mundo é um vale de lágrimas e sofrimento e que o cristianismo nada mais era que uma ilusão, uma forma de disfarçar a tenebrosa realidade e iludir o que crê, fazendo-o acreditar na bondade e na alegria da vida terrena – coisas que, para ele, não existem. Assim agia Platão na antiguidade: idealizava algo que não existia, algo perfeito e eterno, para maquiar a verdade disforme e cruel. Daí a necessidade vista por Nietzsche de matar Deus. A morte de Deus é a morte de um horizonte metafísico, que se baseia na dualidade entre verdade e hipocrisia, entre bem e o mal. A inversão de valores para ele é clara: no mundo, o agir bem significa ser submisso, ser fraco, vestir as máscaras que os poderosos impõem sob o pretexto de ser esse o caminho para se encontrar a ficta e infértil felicidade. Já o mal é romper, é escavar o submundo do pensamento humano, é “fazer falar aquilo que gostaria de permanecer mudo” e esta tarefa Nietzsche toma para si : "munido de uma tocha cuja luz não treme, levo uma claridade intensa aos subterrâneos do ideal".

Se a realidade é verdadeiramente infecta como dizia Nietzsche, e nela o homem fraco – que, para ele, seria a enorme maioria deles – estava cegamente imerso, o rumo tomado naquela manhã de terça feira tem sua explicação filosófica. Ás 08:48 um dos Boeings se chocou contra o 100º andar do World Trade Center. Ás 09:03, a segunda torre é atacada por outro “imenso pássaro de ferro”. A primeira torre foi ao chão às 09:59, e a segunda, às 10:28. O Boeing que decolara às 08:10 se chocava, às 09:43, contra o Pentágono, a 3km da Casa Branca, e o que decolara às 08:01 caiu às 10:10 em Shanksville, Pensilvânia, supostamente derrubado pelos próprios passageiros, que brigaram com os terroristas. Talvez Deus, para escapar do assassinato de Nietzsche, tenha mudado sua identidade para Alá e, então, invertido de vez os valores.

Em nome de uma realização duvidosa – um paraíso com 72 virgens à espera daqueles que se sacrificam por Ele -, milhares de vidas foram eliminadas e o pior, talvez, ainda estivesse por vir: "Não se trata apenas de capturar essas pessoas e fazer com que paguem pelo que fizeram (...), é preciso também eliminar os santuários, os sistemas de apoio e acabar com os Estados que patrocinam o terrorismo", disse Paul Wolfowitz, subsecretário de Defesa. O mau virou eixo, alvo marcado e atacado, vitimando ainda mais inocentes. A definição de mau nietzschiana, de repente, pareceu profecia.

Daí a problematização de o mal ser algo que, de certa forma, se impõe no dia de hoje. Para Nietzsche, o bem é o mal disfarçado e, ele sim, é a regra, não a exceção; a promessa de paraíso é a desculpa perfeita para o domínio e a escravização daqueles que são fracos para, até mesmo, perceber o que se passa. E, no episódio relembrado na data de hoje, talvez o filósofo ora estudado teria sua mais clara comprovação, a sua mais elementar prova, capaz de sustentar seu argumento de uma forma tristemente irrefutável.

Dedico este singelo e despretensioso artigo a todos aqueles que, de alguma forma, tiveram um pouco de Nietzsche no seu dia hoje e que, ainda assim, seguem esperando dias mais pincelados por Rousseau.

Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?