sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Teodicéia e a Liberdade Humana

O termo Teodicéia, criado pelo filósofo alemão Gottfried Leibniz em 1710 e que em grego significa “justiça de Deus”, pode ser definido como uma tentativa de justificar, utilizando-se somente da razão humana, o comportamento de Deus com o objetivo de encontrar uma resposta ao problema do mal. Para tanto, Leibniz parte da ideia de Deus como um ser cognitivo perfeito, e que, portanto, não poderia agir contra a sua própria essência, uma vez que cairia em contradição. Assim sendo, Deus, a partir de critérios lógicos fundamentais, criou o melhor dos mundos possíveis. Dessa forma, como explicar a presença do mal em um mundo criado por um Deus racional e bondoso?

Segundo Leibniz, a presença do mal é verificada de três formas: o mal metafísico, o mal moral e o mal físico. O primeiro deles, o mal metafísico, parte do pressuposto de que somente Deus é um ser perfeito, logo, todos os demais seres, por serem dotados de imperfeições nas suas essências, não podem ser puramente bons como Deus. O mal metafísico, seguindo o raciocínio do filósofo, consequentemente gera outro mal, o moral, que é facilmente percebido no nosso cotidiano, principalmente em atitudes vingativas, quando ocorre por exemplo troca de tiros entre policiais e bandidos em uma favela, culminando com a morte de uma pessoa inocente, fazendo com que o parente da vítima, por ódio aos policiais, termine por ingressar na prática de crimes e acabe roubando uma outra pessoa que, por sua vez, passa a querer uma maior punição aos criminosos como forma de retaliação, gerando um ciclo. O último mal, o físico, é também consequência do mal moral, como forma de sua punição.

Não obstante todas as atrocidades presentes no mundo, Deus nos concebeu o melhor dos mundos possíveis, de modo que o mal que existe no mundo é o mínimo necessário para a maximização do bem. Tal qual o conceito da filosofia chinesa do “yin yang”, bem e mal são opostos complementares, ambos com grande importância. Se um deixasse de existir, o outro também desaparecia, restando o nada, assim como só é possível dizer que existe compaixão a partir da existência da ideia de sofrimento, que só existe coragem porque existe covardia, e que só existe felicidade por existir tristeza.

Leibniz então, acredita que Deus só permite a existência do mal como condição para atingir bens muito maiores, e é por isso que nos foi conferido o lívre-arbítrio. O mal é intrínseco ao ser humano, mas ele existe apenas de forma a permitir que o homem seja livre nas suas escolhas, tendo em vista que a existência do mal em nós é melhor do que a falta de liberdade.

Portanto, concluo o texto dizendo que não cabe a nós, seres humanos, escolhermos se iremos nascer e viver em épocas boas, de paz e harmonia, ou em épocas de guerra, violência e crueldade. Cabe a nós, tão somente, escolher o que fazer com o tempo que nos é dado. São as nossas escolhas que definem a nossa vida, a nossa personalidade e o nosso caráter. São essas escolhas que, não sendo feitas de forma racional e responsável, conduzem o ser humano à prática do mal. É a liberdade de opções que nos permite escolher se queremos ser 99% bons e 1% maus, ou se queremos ser mais maus do que bons. A ideia é bem aquela presente no vídeo abaixo, trecho do filme “Matrix”, em que podemos decidir para que lado nossas atitudes influenciarão nessa balança. Se insistiremos em influenciá-la positivamente sabendo que o mal nunca irá deixar de existir, ou se influenciaremos de forma negativa, ou então se iremos abdicar de fazer nossas de escolhas.

Um comentário:

  1. Muito bem! Saber escolher entre agir bem ou agir mal é tarefa no mínimo complicada, pois, naturalmente, estas escolhas serão feitas com base naquilo que cada indivíduo viveu ou vive, sabendo que cada um de nós possui algo na vida distinto da vida do outro. Uma coisa é certa, nossas escolhas precisam ser bem feitas para que não cometamos erros irreparáveis. Uma excelente opção é : "Fazer o bem e não prejudicar ninguém!"

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Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?