quarta-feira, 30 de setembro de 2009

As conseqüências nefastas da idealização da figura do mal

Fechemos os olhos e idealizemos o mal em pessoa. O que nos vem à mente? O criminoso. E qual a imagem do criminoso? Uma pessoa pobre, mal vestida, violenta, que conversa por meio de gírias e mora na favela. Agora voltemos ao tempo, em plena segunda guerra mundial e perguntemos aos alemães: qual é a figura do mal em pessoa? A resposta: o judeu. O motivo? Os mais fúteis possíveis: serem ricos, egoístas, e se acharem superiores aos outros.

Os dois exemplos acima tiveram e têm conseqüências diversas. No holocausto, milhares de judeus foram assassinados de forma cruel e brutal, não havendo no decorrer da história tamanha desumanidade (vide enquete) e desrespeito ao próximo, já a figura do criminoso tida como única e exemplar, tem como conseqüência o preconceito absurdo daquele que tem a sua cultura e modo de viver peculiar, ou na pior das hipóteses, o que não teve a oportunidade de mostrar o seu potencial e fora abandonado pelo Estado. Inevitável porém, a conseqüência igual e nefasta em ambos os casos: a discriminação. Mas afinal, porque os judeus? Porque esse juízo de valor sobre o criminoso? Como é esse processo de martirização?

A resposta para essa idealização do mal ou esse "pre-conceito" existente em relação a algum povo/pessoa/fato/situação é devido ao fenômeno que a sociologia denomina como representações sociais. Segundo Durkheim, o processo da representação social faz com que pessoas de um determinado grupo já considerem como naturais certas idéias, passando a entendê-las como inerentes a si próprios, e levando é claro a um juízo de valor na maioria das vezes perverso. No caso dos judeus, essa representação surgiu através da força política e ideológica transmitida ao povo alemão via os fortes e eficazes meios de comunicações nazistas (propaganda, discursos, imagens) o que levou ao enraizamento de vez da idéia do judeu como o mal. Já em relação ao criminoso, deve-se ao discurso fácil e dominante, reforçado é claro, pela mídia que sempre nos passa de forma tendenciosa as notícias de crimes cometidos por pobres, negros, e moradores do subúrbio, como se fossem sempre os únicos a cometê-los.

Desse modo, devemos sempre ficar cautelosos a certas idéias ou valores que tendem a algo. Especialmente para aqueles da área jurídica, na qual a atenção deve ser redobrada, pois em seu dia-a-dia profissional haverá várias situações conflituosas, bem como lhe dar com pessoas de diversas crenças, raças, religiões e ideologias.

Portanto, o ideal é sempre se colocar na figura do próximo, pois é muito difícil reparar as conseqüências do mal cometidas a alguém.

2 comentários:

  1. Muito bom, creio ser muito pertinente o assunto tratado...

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  2. O ideal seria a inexistência do preconceito, porém não podemos esquecer que quando nascemos, crescemos e nos tornanmos conscientes da realidade em que vivemos, notamos que existem pessoas que vivem de modo distinto do nosso, observamos como agem no dia a dia e quais são as consequências de suas atitudes. Quando percebemos que há algo divergente daquilo que conhecemos e vivemos, naturalmente, tiramos algumas conclusões. São estas conclusões que nos levam a criar um juízo de valor em relação às pessoas diferentes do grupo social ao qual pertencemos. O preconceito, na maoria das vezes se origina daí, de nossas conclusões, que às vezes podem ser equivocadas ou não. Certo é que tanto os mais bem afortunados quanto os menos favorecidos possuem algum tipo de preconceito em relação ao outro. É preciso saber conviver com pessoas distintas do meio em que vivemos para, então, conseguirmos entender quais são as necessidades de cada grupo social a fim de amenizar, ou quem sabe, colocar um basta na desigualdade socio-econômica que existe no mundo em que vivemos.
    Parabéns pelo texto meu nobre colega Alberto Serrano!!!

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Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?