quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A contribuição de Plotino para a compreensão do Mal

Plotino (204-270) nasceu em Licópolis, Alto Egito e, aos 28, foi para Alexandria, onde seguiu as lições do platônico Amônio Sacas, que o converteu ao pensamento filosófico. Em 243, no intuito de conhecer a filosofia persa, se engajou no exército do imperador Giordano; sobrevivendo a desastres, quedou-se definitivamente em Roma, onde abriu uma escola e uniu às práticas ascéticas (“tinha vergonha de estar num corpo”, dirá seu discípulo Porfírio a seu respeito) um ensinamento muito brilhante. Porfírio anotou e publicou seus cursos, agrupados em cinquenta e quatro tratados.Sua doutrina fundamental é a das três hipóstases, a saber, das três substâncias (três realidades eternas), que procedem umas das outras:1. A realidade suprema, o Deus, é Uno, o qual não é o conhecimento nem o ser, mas antes a fonte inefável de todo ser e de todo pensamento. Ele é todas as coisas e nenhuma delas. Para Plotino o Uno, que a tradição cristã identifica como Deus, transcende o ser, a substância e a morte, vai além de todas as coisas, é infinito e imaterial. Mas é o Deus-Uno que gera e conserva todas as coisas ilimitadamente. Nós não conseguimos entender, chegar até Ele, manifestar ou representar Deus. Ele cria as coisas como se fossem emanações que dele saem como a luz que sai de um astro luminoso e se espalha para tudo à sua volta.2. Tal Deus não está submetido a qualquer necessidade, uma vez que desejar é sentir falta de algo; ao passo que Ele é plenitude. Deus quando pensa a si mesmo cria o intelecto, que é a sua representação. O intelecto quando pensa em si cria a alma, que é a representação do intelecto. Nesse processo de representação as criações vão perdendo a identidade com o que representam originalmente, da mesma forma como as cópias de cópias vão perdendo a qualidade. Assim, as coisas que tem origem em Deus serão sempre a Ele mais inferiores à medida que se afastam dele.3. A alma é a mediação entre a inteligência, da qual ela procede, e o mundo sensível, cuja ordem é por ela constituída. A alma humana é parcela do próprio Deus presente em nós.O mundo material representa, abaixo das três hipóstases, o último estágio dessa difusão divina, o ponto culminante no qual morre a luz, onde se encontram a opacidade da carne, o peso da matéria, as trevas do mal. Contudo, enquanto o Uno se dispersou, se obscureceu, se abismou no múltiplo, este almeja a reconquista da unidade, da luz e do repouso na fonte sublime. Ao movimento de procedência corresponde o impulso de conversão pelo qual a alma, caída no corpo, perdida no mal, se assume e tenta se elevar até o princípio original.Na sequência de importância das derivações está Deus em primeiro lugar, o intelecto em segundo e a alma em terceiro. Estes três primeiros formam o que pode ser apreendido pelo intelecto. Em seguida aparece o mundo físico, criado pela alma e que é composto de matéria, que é algo negativo para Plotino. Deus está nessa sequência, no patamar superior e a matéria está na parte mais baixa dessa visão. A matéria é o não ser, é o Mal, pois está privado de todo Bem. Ela é negativa, pois está desprovida de toda positividade que vem do Deus-Uno.Para Plotino, não existe um mundo do mal, algoz do mundo do bem. O mal nada tem de uma substância, não é senão o apequenamento da sabedoria e uma diminuição progressiva e contínua do bem. A alma prisioneira do mal seria somente uma alma que se ignora. O mal não é uma substância original, é antes o procurado pelo reflexo do bem, que fracamente ainda nela brilha. Assim, livrar-se do mal não é destruir um universo para dar lugar a outro, mas encontrar a si mesmo na sua verdade. A consciência para Plotino é a capacidade de encontrar a verdade dentro de si mesmo. É na consciência que vamos encontrar as mais elevadas verdades e a origem de todas as verdades, que é Deus. Ir em busca das verdades da consciência é fazer um caminho de regresso a nós mesmos, um caminho de volta para dentro de nós. Retornar a nós mesmos é fazer o caminho que vai nos levar a Deus. Para percorermos esse caminho devemos inicialmente nos tornar independentes da exterioridade corporal e, ato contínuo, nos purificar com as virtudes da inteligência e da sabedoria, do equilíbrio dos desejos, da coragem e da justiça. Essas virtudes devem ser comandadas pela razão e pelo intelecto, usando também como instrumentos o amor, a música e a filosofia. Para Plotino, mesmo o mal tem a sua razão de ser, pois sendo ele inevitável, significa que é necessário. Ele atribui ao mal também uma função ética, enxergando uma espécie de expiação por uma culpa original.

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Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?