terça-feira, 17 de novembro de 2009

O mal inerente ao homem

Santo Agostinho, por meio do Furto das Peras, passagem do livro Confissões, ilustra a sua tese de que o homem é naturalmente mal. Ao criar a situação, o filósofo medieval escolhe um pecado, o furto, o objeto desse pecado, as peras, e demonstra que o homem só roubou por malícia, ou seja, por causa de sua maldade, uma vez que não havia nada nessas peras que justificassem o ato, já que elas não eram apetitosas, saborosas e, ainda, que ele já possuía da fruta. Será que Agostinho estava realmente certo ao afirmar essa possibilidade?
Segundo matéria veiculada na revista Época (A ciência e os assassinos), estudos recentes colocam em discussão a idéia até então existente de que o principal fator de desenvolvimento da psicopatia seria os traumas na educação e na criação. Segundo pesquisa desenvolvida pelo neurologista português António Damásio, crianças que sofrem lesões no cérebro frontal podem manifestar distúrbios comportamentais, sendo maior a chance de desenvolverem psicopatia ou outros desvios de comportamento. As conseqüências dessas lesões são mais graves em crianças que em adultos.
Os psicopatas são pessoas que agem somente em benefício próprio, não importando os meios utilizados para alcançar seus objetivos; que não possuem sentimento de culpa; dificilmente estabelecem laços afetivos com alguma pessoa e, quando estabelecem, é simplesmente por puro interesse. Indivíduos articulados, inteligentes e autoconfiantes, eles não tem ética, empatia, remorso ou sentido de culpa. Cerca de 1% da população mundial pode ser identificada como psicopata.
Ao escutarmos sobre psicopatas, é costume associar este transtorno de personalidade com figuras como Lindemberg, um jovem de 22 anos que, após um seqüestro que durou 100 horas, atirou e matou a ex-namorada; Suzane Richthofen, uma jovem rica que abriu a porta de sua casa para que o namorado e o irmão dele matassem seus pais, com pancadas de barras de ferro, e depois foi para o motel; ou ainda o caso de Mateus da Costa Meira, um ex-estudante de medicina que metralhou três pessoas e feriu outras quatro em uma sala de cinema. Entretanto, não é correto afirmar que todo psicopata é violento e comete maldades. Segundo Robert Hare, psicólogo canadense criador da escala usada para medir os graus de psicopatia, os psicopatas apresentam comportamentos que podem ser classificados de perversos, mas que, na maioria dos casos, tem por finalidade apenas tornar as coisas mais fáceis para eles, não importando se isso vai causar prejuízo ou tristeza a alguém.
O distúrbio na mente dos psicopatas acontece no sistema límbico, parte do cérebro responsável pelas emoções. Nessas pessoas, a atividade cerebral na região funciona menos do que deveria e, por isso, as emoções não afloram. Para essas pessoas, uma cena de estupro ou o sorriso de um bebê, por exemplo, não são diferentes, o que explica a sua crueldade. O escritor e assassino Jack Abbott descreveu: “Existem emoções que conheço apenas através de palavras e leitura. Eu posso até imaginar que sinto essas emoções, mas realmente não sinto.”
No Brasil, os psicopatas costumam ser considerados semi-imputáveis pela Justiça; os magistrados entendem que ales até podem ter consciência do caráter ilícito do que cometeram, mas não conseguem evitar a conduta que os levou a praticar o creme. Entretanto, segundo Robert Hare, os psicopatas são totalmente responsáveis pelos seus atos, já que ele entende e sabe que a sociedade considera errada aquela conduta, mas decide fazer mesmo assim; como faz uma escolha, deve ser responsabilizado pelos crimes que, por ventura, cometa. Segundo a corrente adotada no Brasil, quando tomamos uma decisão, fazemos ponderações intelectuais e emocionais para decidir; o psicopata decide apenas intelectualmente, porque não experimenta as emoções morais e, por isso, não entende as conseqüências de seus atos, não podendo ser responsabilizado da mesma maneira que as pessoas “normais”.
A sociedade atual, competitiva e com a idéia de que “você é o que você tem”, acaba por valorizar o comportamento psicopata. Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes Perigosas – o perigo mora ao lado: “Esses ‘predadores sociais’ com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo ou nível social. Trabalham, estudam, fazem carreiras, se casam, têm filhos, mas definitivamente não são como a maioria da população: aquelas a quem chamaríamos de ‘pessoas do bem’. Eles podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas não matam. E, exatamente por isso, permanecem por muito tempo ou até uma vida inteira sem serem descobertos ou diagnosticados. Por serem charmosos, eloqüentes, ‘inteligentes’ e sedutores costumam não levantar a menor suspeita de quem realmente são. Visam apenas o benefício próprio, almejam o poder e o status, engordam ilicitamente suas contas bancárias, são mentirosos contumazes, parasitas, chefes tiranos, pedófilos, líderes natos da maldade. Em casos extremos, os psicopatas matam a sangue-frio, com requintes de crueldade, sem medo e sem arrependimento. Porém, o que a sociedade desconhece é que os psicopatas, em sua grande maioria, não são assassinos e vivem como se fossem pessoas comuns.”

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Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?