domingo, 22 de novembro de 2009

"OUSAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE" - DIÁKRISIS

“OUSAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE” - DIÁKRISIS
É possível Lutar contra os Males – Ser Kairós, e não apenas khrónos.
JUVENAL ARDUINI:

“Nossa gente reclama Diákrisis. Exige decisão criadora para gerarmos outra história, outra vida, outra esperança. Este é o apelo fascinante que deciframos no rosto padecido de nosso povo injustiçado, mas ainda não desesperado.”




Fiquei pensando se seria possível encontrar um modo de lutarmos contra o mal, e encontrei nas lições do sacerdote, filósofo e antropólogo mineiro Juvenal Arduini uma forma em que cada ser humano pode contribuir com uma “ação de decidir”, a Diákrisis, para reinventar a humanidade, em sua obra: “Ousar para reinventar a humanidade” São Paulo, Paulus, 2002, p. 13-19.

O autor identifica que o “fatalismo cronológico difunde a crença da imutabilidade histórico-social. Leva a acreditar que o tempo traça o destino humano. Dessa forma, os grupos fracos e dependentes sentem-se impotentes. E as vítimas sociais não teriam força para modificar a sociedade que as esmaga. Não adiantaria lutar contra o tempo. Por isso, os que se enriquecem com a atual sociedade injusta tentam mostrar que é inútil querer transformá-la. Nada imobiliza tanto os empobrecidos como incutir-lhes a ideia de que é impossível mudar o país.

Mas a verdade é outra. Leis, organizações, programas governamentais, tramas políticas, desemprego, privilégios de uns e carências de outros, reformas e medidas protecionistas são produto de decisão e ação das pessoas, de grupos e nações. Setores organizados lutam ferozmente para impedir mudanças sociais, para sobrepor seus lucros às necessidades da população.
Não há fatalismo cronológico. Pode haver banditismo social, político e econômico no plano nacional e internacional.

Há que cultivar a reflexão e a práxis “emancipatória”, de que fala o filósofo J. Habermas.
O ser humano precisa desalienar-se, adquirir senso crítico, decidir-se e participar. Não se pode transferir sua responsabilidade ao tempo. Em todo ser humano existe potencial emancipatório.

Não basta mudar o curso do tempo. Há que mudar a vida da humanidade aviltada. É urgente construir a história da justiça, em vez da história da desigualdade; construir a história da dignidade, em vez da história da miséria; construir a história da maioria silenciada, em vez da história da minoria falante. A história não está encerrada . E a sociedade brasileira há de acelerar o rítmo de gênese. E ter ousadia para reinventar-se.

O agente histórico é o homem, e não o tempo. Durante o mesmo período de tempo, pode haver grandes conquistas e grandes retrocessos, pode ser criada técnica para curar enfermidades e também nova técnica para mutilar vidas.
Na mesma época, coexistiram a terna Tereza, de Calcutá, e o cruel Augusto Pinochet.

Perante o tempo, nossa atitude deve ser mais de iniciativa do que de expectativa. Há que tecer os acontecimentos, em vez de esperar que surjam automaticamente. Importa ser agente e não só espectador da história. O fatalismo cronológico esvazia a ação humana, porque atribui ao tempo a destinação histórica. Com essa mentalidade, o ser humano apassiva-se. Espera de braços cruzados. Aguardar pode ser cômodo, mas não é eficaz.

O filósofo Jurgen Habermas abre análise elucidativa. Em seu livro Textos e contextos, lembra que Hitler, Charles Chaplin, Winttgenstein e Hidegger nasceram no mesmo ano de 1889, mas criaram “destinos” diferentes e, até, opostos. Hitler foi o ditador feroz, exterminador de milhões de vidas humanas. Chaplin, em nome da inteligência e da liberdade, estimatizou o tirano com o filme O grande ditador. Wittgenstein nasceu de família judaica. Especialista em matemática, tornou-se o filósofo da linguagem. Paradoxal. Místico, anustiado, Wittgenstein escreve a Bertrand Russel: “Sinto-me a um passo da loucura”. Heidegger foi filósofo do Sentido do saber. Pensador denso, referência obrigatória para a filosofia. Não demonstrava tormento psicológico, como Wittgenstein. Mas cortejou o nazismo.

São quatro figuras históricas nascidas no mesmo ano, mas com biografias heterogêneas e contrastante. Isto mostra que seres humanos da mesma época podem construir rumos, vidas e histórias com significados deferentes e até contraditórios.
O fundamental não é o fluir do tempo, mas a Diákrisis, a ação de decidir. É a Diákrisis, a decisão criativa que gera a história, cultura, economia, política, educação, tecnologia e transformação de sistemas. Se o tempo plasmasse a humanidade, os habitantes da mesma era seriam todos iguais.

Nossa gente reclama Diákrisis. Exige decisão corajosa e iniciativa criadora para gerarmos outra história, outra vida, outra esperança. Este é o apelo fascinante que deciframos no rosto padecido de nosso povo injustiçado, mas ainda não desesperado.” (GRIFEI).

Extratos da Obra: ARDUINI, Juvenal. Ousar para reinventar a humanidade. São Paulo, Paulus, 2002, p. 13-19.

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Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?