segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O Centenário de Norberto Bobbio


“Cada vez sabemos menos”. Foi com esta certeza que Norberto Bobbio, um dos maiores filósofos e juristas do século XX, faleceu em 2004. Em uma de suas últimas entrevistas, o pensador justificou a frase acima afirmando: "Quando sinto ter chegado ao fim da vida sem ter encontrado uma resposta às perguntas últimas, a minha inteligência fica humilhada, e eu aceito esta humilhação, aceito-a e não procuro fugir desta humilhação com a fé, por meio de caminhos que não consigo percorrer. Continuo a ser homem, com minha razão limitada e humilhada: sei que não sei. Isso eu chamo de minha religiosidade”. Foram 94 anos muito bem vividos em meio a indagações constantes, combates ao arbítrio e aos fanatismos, defesas intensas a democracia, a igualdade e aos direitos individuais.

Bobbio, italiano e membro de uma família burguesa tradicional, formou-se em Filosofia e Direito, lecionou em diversas universidades européias, dentre elas as Universidades de Turim, Paris e Madri. Foi um expoente militante de grupos liberais e socialistas durante o período fascista da Segunda Guerra Mundial, defendendo o individualismo diante do Estado, para que a liberdade individual fosse sobre valorada no confronto com a autoridade excessiva dos governos, além de debater temas fundamentais, como a tolerância, relacionada ao preconceito.

Em um dos seus mais famosos livros, “A Era dos Direitos”, Bobbio enfatiza que a questão dos Direitos do Homem está estritamente relacionada à questão da Paz, a qual seria, então, um pressuposto necessário para o reconhecimento e a proteção dos Direitos do Homem dentro de cada Estado. Dessa forma, o filósofo ressalta não ser possível que a Paz se concretize sem uma gradativa ampliação dos Direitos do Homem acima de cada Estado.

Nas palavras do próprio autor, “direitos do homem, democracia e paz são três momentos necessários do mesmo movimento histórico: sem direitos do homem reconhecidos e protegidos, não há democracia; sem democracia, não existem as condições mínimas para a solução pacífica dos conflitos". O empenho em prol da paz e a crítica à guerra são, portanto, tema recorrente de Bobbio, principalmente no que se refere aos males do fascismo. Pare ele, esse regime político “trazia a violência no corpo. A violência era a sua ideologia". O autor se mostrou contra esta ditadura, colaborando para a sua queda ao participar da guerra de libertação, e integrando o Partido de Ação.

No livro “O Tempo da Memória (De Senectute e outros escritos autobiográficos)”, Bobbio reflete sobre a vida e seus significados, fala de si mesmo e de sua trajetória intelectual, fazendo um balanço definitivo de uma vida consagrada ao estudo dos grandes temas do direito e da política. Além de questionar a velhice no mundo contemporâneo, o filósofo faz uma avaliação intensa de sua vida, percebendo que sua produção intelectual o revelou um homem inquieto, voltado para a análise e a reflexão, o qual buscou compreender e conhecer o mundo através do diálogo com os conceitos e os próprios homens: Bobbio sempre foi um ardente defensor do debate das idéias.

Com uma intensa participação na vida pública e no debate político, o jurista destacou que “detestava os fanáticos com toda a alma”, já que acreditava ser preciso estabelecer um diálogo sobre os grandes temas da liberdade, da justiça social e, sobretudo, da democracia.

No dia em que o pensador, que se autodefinia como um militante da razão, completaria 100 anos, vale destacar um trecho de sua autobiografia, escrito de modo extremamente sábio: “Aconteceu-me muitas vezes ser criticado por uma descrição demasiado crua da realidade, como se tentar compreender o MAL também em seus aspectos mais recônditos equivalesse a comprazer-se com ele e justificá-lo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?