terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cândido, ou o Otimismo

Voltaire foi um importante filósofo do Iluminismo Francês, suas obras e idéias Liberalistas tiveram grande repercussão na Revolução Francesa e na Independência dos Estados Unidos. Voltaire era seu pseudônimo, seu verdadeiro nome era François Marie Arouet, nasceu em Paris, em 21 de Novembro de 1694 e morreu, também em Paris, em 30 de Maio de 1778.

O problema do mal sempre inquetou Voltaire e dentre suas Obras há uma que trata, específica e explicitamente, do mal: “Cândido, ou o Otimismo”, publicada em 1759, narra a história do protagonista Cândido, pupilo do Dr. Pangloss que lhe ensina a ver tudo pela ótica otimista, preceituando que estamos no "melhor dos mundos possíveis".

Cândido morava em um castelo, do qual foi expulso por cortejar a filha do proprietário, a bela Cunegundes. A partir de sua expulsão, Cândido viaja pelo mundo inteiro, até que ele encontra um sábio, Martinho, que passa a ser seu companheiro de viagens. Martinho é um maniqueísta convicto e, ao contrário do Dr. Pangloss, assinala que, no mundo, há o bem e o mal, mas que este último sempre prevalece.

Em sua jornada, sempre filosofando sozinho ou com Martinho, em busca da bela Cunegundes, que teve seu castelo destruído e foi obrigada e se prostituir para sobreviver, Cândido vivenciou diversas mazelas e desgraças que o fizeram questionar os ensinamentos de seu preceptor, aos quais tanto se apegava. Ao final, Cândido encontra, ainda, um derviche muçulmano ceticista, que afirmava nada saber e passou a vida cuidando de sua propriedade e de sua família, e que afirma que cabe ao homem trabalhar, apenas, que nada se pode fazer se há, no mundo, mal ou bem.

Em “Cândido, ou o Otimismo” Voltaire critica o filósofo Gottfried Wilhelm von Leibniz (nasceu em Leipzig, em 1 de julho de 1646 e moreu em Hanôver, em 14 de novembro de 1716). Para Leibniz, em sua obra “Ensaios de Teodicéia” Deus seria um ser cognitivo perfeito (racional e bondoso) e, portanto, não poderia agir contra a sua própria essência, uma vez que cairia em contradição. Assim sendo, Deus, a partir de critérios lógicos fundamentais, criou o melhor dos mundos possíveis, ou seja, Leibniz sustenta que o mundo criado por deus não poderia ser melhor do que este em que vivemos, pois se assim o fosse, se houvesse a possibilidade de um mundo melhor do que este que foi criado, isso entraria em choque com a natureza de Deus.

Em uma análise mais filosófica do livro poder-se-ia supor que o Dr. Pangloss representaria Leibniz, e o derviche ceticista, o próprio Voltaire; pois o mal, para Voltaire, não é metafísico, mas sim social. Deve-se superá-lo com trabalho e com a razão, Voltaire diz, no livro, através do derviche, que "o trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.

Cândido seria a figura do “filósofo ignorante”, criada por Voltaire, que reconhece os limites da razão para questionar e contestar sem nunca encontrar uma resposta satisfatória; pois Cândido passa a questionar o otimismo do Dr. Pangloss, ao mesmo tempo em que não aceita o Maniqueísmo de Martinho nem se convence por completo do ceticismo do derviche.

Voltaire, em sua Obra, acaba por fazer ao leitor o mesmo que fez a Cândido: os desperta para a vulnerabilidade, fragilidade e insegurança de tudo aquilo que parece certo e estável no mundo que os cerca. Cada leitor torna-se, também, um “filósofo ignorante”, que passa a questionar as verdades tidas como certas e absolutas, filosofia que vem sido defendida desde Sócrates.

Com relação ao Mal, de acordo com a Professora Maria das Graças S. do Nascimento, em seu livro “Voltaire, a razão militante”, existem, em “Cândido, ou o Otimismo”, três alternativas para se responder ao problema do mal. A primeira reside no pensamento mágico de Pangloss, onde os males são necessários em favor do bem maior, o que se verificou ser inverossímil no decorrer da obra, vez que não se chegou a um bem maior em momento algum; de fato, Cândido casou-se com Cunegundes, como planejava no início, mas contra a sua vontade, pois ela já se encontrava desgastada, feia, rabugenta e insuportável.

A segunda é suscitada por Martinho, companheiro de Cândido, pois para ele, tudo no mundo é regido por dois princípios, o bem e o mal (Maniqueísmo), sendo que o segundo se sobrepõe sempre ao primeiro, ou reprime qualquer bem incluso no curso dos acontecimentos.

A última alternativa, por sua vez, é apresentada pelo derviche muçulmano ceticista, que diz ao Cândido e ao Dr. Pangloss que diante de todo o mal que há na Terra a única coisa a fazer é calar-se.

Verifica-se, na Obra, a presença do mal por toda parte, não havia possibilidade de a história de Cândido ser mais repleta de mazelas e infortúnios, depois de sair do “melhor dos mundos possíveis” (o castelo em que ele morava com o Dr. Pangloss) ele participou de guerras, foi chicoteado, viu o Dr. Pangloss ser enforcado e dissecado, foi roubado, preso e torturado, tudo com grande requinte de crueldade, e casou-se com Cunegundes já deformada por seguidos estupros e tentativas de assassinato.

Em sua odisséia pelo mundo Cândido encontrou várias pessoas que enfrentaram, assim como ele, uma teia de infortúnios, desde ladrões até reis, e ao final ele encontra o derviche que de todos se mostrou o mais contente com sua condição; o derviche, que passara a vida a cultivar sua propriedade e cuidar de sua família.

O jovem e inexperiente Cândido viu que a vida é cruel e que se este é o “melhor dos mundos possíveis”, conclui, “devemos cultivar nosso jardim” – frase que encerra a Obra – pois como ensinou o derviche, e repetiu Martinho, devemos trabalhar, pois, além de afastar o homem dos males, esta “é a única maneira de tornar a vida suportável”. Observa, ainda, o Dr. Pangloss, que quando o homem foi posto no Jardim do Éden, foi posto para que lá trabalhasse e não para que ficasse em repouso.

A conclusão é que o mal é inevitável e estará sempre presente no mundo, admitamos ou não, em quantidade maior para alguns – os menos afortunados – e menor para outros!

3 comentários:

  1. Parabéns pela exposição!!!

    Ao concordarmos que o mal sempre estará presente no mundo, devemos usar de nossas forças, sejam elas espirituais, intelectuais e, até mesmo, a força física para fortaceler, ainda mais, o bem.
    Há momentos em que nos deparamos com algum mal, entretanto, esse mal pode fazer um bem quando nos induz a repensar nas atitudes que acreditamos serem boas, mas nem sempre o são.
    No momento em que o mal se faz presente é justamente quando devemos agir com mais força e determinação na prática de um bem maior.
    Sendo assim, acreditamos que fazendo o bem, o mal não mais irá nos importunar. É o momento em que fortalecemos nossa consciência e procuramos pensar mais no próximo, buscando, cada um à sua maneira, a salvação!!!
    Momento de reflexão!!!

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  2. O Derviche pode ser interpretado como a caricatura do ultimo homem nietzscheano, que niilista e sem esperança apenas busca se entorpecer atraves do trabalho e busca uma vida sem sobressaltos. Ao contrário, as "figuras tristes" que aparecem no livro, possuem certa semelhança com a visao tragica nietzschena, onde a dor e o sofrimento não é vista como uma objeção à existencia.

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Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?