A propaganda, seja ela comercial ou ideológica, está sempre ligada aos objetivos econômicos e aos interesses da classe dominante. Porém na sua divulgação a idéia transmitida é exatamente oposta, a imagem é de que quem sai sempre no lucro por adquirir o produto é o consumidor.
A propaganda não trabalha com o racional dos indivíduos, mas sim em fatores sentimentais, sejam eles a imagem que cada um tem de si ou a imagem que cada um quer manter para os outros.
A ideologia é sempre a mesma, se adquirir esse produto você vai ter sucesso, ser feliz e completamente realizado. O que a publicidade vende, é muito mais do que o produto, é a promessa de satisfação de uma necessidade ou aspiração que vai além das possibilidades do produto. Dessa forma a propaganda acaba moldando o comportamento por meio da veiculação de valores que estão centrados no ter e não no ser.
Essa é uma questão que está diretamente ligada ao mal e suas raízes. Diante de uma sociedade tão desigual como a brasileira, é muito complexo pautar a ascensão social diante da figura do ter. As propagandas sempre demonstram pessoas que são aceitas e admiradas no meio em que vivem por possuir determinado bem. Ora, então qualquer um pode ter aquela vida, só é preciso possuir tal bem. E é aí que o desvio de conduta estritamente ligado ao desejo se forma.
Num país em que a grande parte dos cidadãos vive em condições de miséria, com pouca escolaridade e sem perspectiva de crescimento, o crime se torna um meio para se encaixar nos padrões sociais almejados. Há uma banalização de valores como a vida, a liberdade e a paz social em prol de uma possível participação em um meio mais avantajado financeiramente.
Segundo dados da FEBEM (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor), nas vésperas do dia das mães, dos namorados, dos pais e do Natal, época em que a propaganda é mais intensa, acontece o maior numero de furtos praticados por menores. Na impossibilidade de comprar, eles respondem aos estímulos da propaganda do único jeito possível. E com isso são presos.
Diante de tal situação, nota-se o enfraquecimento do poder pelo Estado, que não consegue controlar a criminalidade com eficiência, e o domínio da violência. Para Hannah Arendt, a violência é um mero instrumento destinado ao alcance de um fim predeterminado; enquanto tal, ela sempre depende da orientação e da justificação pelo fim que almeja, e, portanto “não pode ser essência de nada”. Em vez de ser a essência do poder, a violência é o fator por excelência capaz de se contrapor a ele e negar-lhe as próprias condições sine qua non, destruindo-o sem que possa jamais desempenhar o mesmo papel na sociedade. O aumento da violência é sempre o signo do enfraquecimento ou a perda do poder e vive-versa.
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