Comer e beber é essencial não só para a saúde humana, já que o homem precisa se alimentar para sobreviver, mas também para a sua alegria, na medida em que é um prazer. Na antiguidade, as pessoas se reuniam para comer e celebrar, essa situação é até mesmo retratada no livro O Banquete, de Platão, contexto em que é feita uma série de discursos sobre a natureza e as qualidades do amor. Além disso, Sócrates era um bebedor de renome, conhecido por permanecer sóbrio mesmo quando todos os outros já estavam completamente embriagados, o que era possível porque o filósofo afirmava conhecer seus limites e nunca ultrapassá-los, podendo ser considerado como personificação da virtude da temperança, que se opõe à gula.
A gula, que pode ser caracterizada pela busca inconstante e incontrolável de prazer no beber e no comer, começou a ser encarada como preocupação social apenas a partir do século VI e sua fama como pecado foi imposta pelo Papa Gregório Magno; combatia-se o culto aos prazeres da boa mesa para evitar a fome em massa e o paganismo.
Hoje o objetivo é mostrar um outro lado desse pecado capital: a bulimia. Nos casos de bulimia nervosa, a gula é levada ao extremo; a pessoa tem episódios freqüentes de ingestão alimentar compulsiva e, logo depois, a falta de controle sobre o comportamento de comer faz com que o indivíduo se sinta culpado e, para compensar o exagero, faça longos períodos de jejum, induza vômitos, use laxantes, diuréticos e pratique exercícios físicos de forma excessiva.
Freud, criador da psicanálise, concluiu que a vontade de comer e o desejo por sexo são controlados pelo mesmo comando cerebral; o impulso nervoso que ativa a fome seria o mesmo que desperta a libido. Entretanto, a sociedade vem impondo padrões de beleza cada dia mais difíceis de serem alcançados por meio de uma alimentação saudável e balanceada. Na busca pelo corpo ideal, homens e mulheres recorrem a métodos cada vez mais extremos e perigosos para a sua saúde, que podem até mesmo levar a morte. Na sociedade contemporânea, comer deixou de ser um prazer, se tornando uma simples necessidade corporal que, para alguns, deveria até mesmo ser dispensável.
Mas não será que o pior pecado é a Luxúria?
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