quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Homem, a raiz do mal.

Depois do post da Gabriela Freire me senti atraído para escrever um pouco sobre o estado de natureza de acordo com as idéias de alguns filósofos. A partir das concepções destes é possível visualizar que a origem do mal pode estar intimamente ligada à existência humana.


Hobbes


Inicio por Hobbes, um daqueles filósofos que afirmavam que a origem do Estado e/ou da sociedade é baseada num contrato. Os homens viveriam naturalmente sem poder e sem organização, a qual só surgiria depois de firmado um pacto por eles, estabelecendo, assim, as regras de convívio social e de subordinação política.

Para ele, quando não há um Estado controlador e repressor, o mais racional a se fazer é a guerra contra o outro, porque o homem sempre está a desconfiar do seu semelhante. Ele cita: “Se alguém planta, ou possui um lugar conveniente, é provável de se esperar que outros venham preparados para desapossá-los e privá-lo, não apenas do fruto do seu trabalho, mas também de sua vida e sua liberdade. E já que os homens são absolutamente iguais o invasor ficará no mesmo perigo em relação aos outros”.

Para este contratualista, o homem está geralmente em discórdia por causa da competição, a qual o leva a atacar o outro, visando o lucro. Além disso, está preocupado com a sua própria segurança e com sua reputação. Ou seja, enquanto não se tem um Estado, os homens não podem tirar prazer da companhia do outro, porque ainda não existe poder capaz de manter a todos em respeito. Assim, eles se encontram naquela condição a que se chama de guerra: todos contra todos.

Esta visão, chocante, é contrária aquela de Aristóteles, na qual o homem vive naturalmente em sociedade. Hobbes fundamenta que, se alguém confiasse tanto no outro homem, não fecharia a porta, mesmo quando está em casa e sabendo que existem leis e policias armados prontos para “vingar” qualquer injúria. Ou esta desconfiança seria acusar a humanidade?

Assim, as ideias de Hobbes resumem-se: na imutabilidade da Natureza humana, a qual não muda com o tempo, história ou vida social; na igualdade natural dos homens quanto às faculdades do corpo e do espírito; e na ideia de que o comportamento mais razoável seria o ataque, o qual resultaria na “guerra de todos contra todos”.




John Locke


Em relação a John Locke, vou dispensar as apresentações, pois já foram feitas no post do Alexandre Lindenberg.

O modelo jus naturalista de Locke é semelhante ao de Hobbes: ambos partem do estado de natureza que, pela mediação do contrato social, realiza a passagem para o estado civil. Contudo, existe grande diferença na forma como ele concebe a sua teoria.

Locke já conseguia imaginar um homem que, em seu estado de natureza, vivia em perfeita liberdade e igualdade, algo bem diferente daquele homem imaginado por Hobbes. Só que este estado, relativamente pacífico, não está isento de inconvenientes. A violação da propriedade, por exemplo, na falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de força coercitiva para impor a execução de sentenças, coloca os indivíduos singulares em estado de guerra uns contra os outros.

Por mais que Locke acreditasse que o homem naturalmente vivia em harmonia, ele já vislumbrava que, “ocasionalmente”, as pessoas transgrediriam o direito natural. Sendo todos reis, todos iguais, e, na sua maioria, pouco observadores da equidade e da justiça, a fruição da propriedade seria insegura. Ou seja, “ocasionalmente” o ser humano não era bom e por isto precisava de regulação.



Rousseau


Diferentemente dos outros dois filósofos, Rousseau afirma que a liberdade faz parte da natureza do homem, inspirando, assim, todos os movimentos que visam uma busca pela liberdade. Inclui-se aí as Revoluções Liberais, o Marxismo, o Anarquismo, etc.

Ele acredita que um povo só será livre quando tiver todas as condições de elaborar suas leis num clima de igualdade. De tal modo que a obediência a essas leis signifique, na verdade, uma submissão à deliberação de si mesmo e não às vontades de um indivíduo em particular ou de um grupo.

Na sua concepção, o primeiro a cercar um terreno e dizer “Isto é meu”, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil, aquele que deu fundamentos a desigualdade entre os homens. Faltando neste momento alguém para arrancar as estacas, o que teria, assim, evitado muitos crimes, guerras e mortes, porque os frutos são para todos e a terra é de ninguém.

Rousseau acreditava que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. No seu estado de natureza, este homem era harmonioso e tinha três desejos: reprodução, repouso e nutrição e um temor: a dor.




Maquiavel


Embora Maquiavel não fosse contratualista como os outros três filósofos, é interessante, de forma rápida e sucinta, saber o que ele pensa sobre o homem. Para ele, o homem é cheio de qualidades, como “ingrato, volúvel, simulador e covarde”.

A natureza humana seria essencialmente má e os seres humanos deveriam obter os máximos ganhos a partir do menor esforço, apenas fazendo o bem quando forçados a isso. O Príncipe deve guiar-se pela necessidade. Além disso, deve “aprender os meios de não ser bom e a fazer o uso ou não das ‘boas qualidades’ conforme as necessidades”, apenas aparentando possuir as qualidades valorizadas pelos governados.

Já que ele acreditava que a política tem ética e lógica própria, diferentes daquelas que regem a vida privada e a religião, a moral convencional pode significar a ruína do Estado.

Para Maquiavel, a natureza humana é caracterizada por atributos negativos e imutáveis (os homens são “ingratos, volúveis, simuladores, covardes [...], ávidos de lucro”). Isto resulta num conflito e anarquia (desdobramentos necessários da natureza humana). Então, o poder político seria a única forma de se evitar o conflito.




“O povo é sempre soberano para mudar suas leis, mesmo as melhores, pois, se for de seu agrado fazer o mal a si mesmo, quem terá o direito de impedi-lo?” Jean-Jacques Rousseau

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Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

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Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?