sábado, 3 de outubro de 2009

Hannah Arendt e a banalidade do mal

Uma vez dada a nós a oportunidade de discutir sobre o tema do Mal na história da humanidade, necessária se faz uma exposição do assunto sob a ótica de uma das maiores teóricas do século XX, Hannah Arendt.

A notável teórica alemã tratou do tema de forma peculiar, até então impensável e, por isso, criticada por muitos à época.

Com a publicação do livro "Eichmann em Jerusalém", de 1963, que relatou o julgamento e enforcamento de Adolf Eichmann - criminoso burocrata que cometeu crimes de genocídio contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial - Hannah Arebdt polemizou o mundo, chegando a criar divergências entre os intelectuais da época e a própria comunidade judaica internacional, ao colocar seus pensamentos a respeito do fato.

Ao tentar explicar sua teoria sobre o Mal, Arendt classificou Eichmann - acusado de crime contra o povo judeu, contra a humanidade e de pertencer a um grupo organizado com fins criminosos - como um ser comum e não como um "monstro". Segundo ela, este homem, responsável pelo extermínio de milhares de judeus em campos de concentração, era apenas mais um que carecia da capacidade de pensar, sem a qualidade do "diálogo consigo mesmo". Ela alertava, logo, sobre o risco assumido pelo homem que deixa de ter essa comunicação consigo mesmo, ou seja, perde a capacidade de pensar, podendo, a partir daí, se tornar o ser mais perigoso, mais até do que os piores criminosos, na condição definida por ela como "a banalidade do mal".

Ainda segundo ela, e neste momento trazendo a reflexão sobre o mal a uma esfera mais genérica e atual, aqueles que não cometem crimes não o fazem, pois seriam incapazes de conviver com um criminoso, ou seja, eles mesmos. Este raciocínio é guiado pela moralidade socrática, que dizia ser melhor sofrer o mal do que o cometer, justamente pelo fato deste ultimo ato implicar na convivência eterna com o malfeitor.

Ou seja, os homens pensantes precisam e têm a companhia de si mesmos, enquanto que os que perderam a capacidade de pensar são capazes de qualquer coisa, sendo, portanto, os mais perigosos.

Pois bem, assim como os criminosos de Auschwitz foram considerados pela filosofa como seres que perderam a capacidade de pensar, tornando-se meras peças de engrenagem da máquina nazista, há indivíduos que, nos dias de hoje, agem dentro das regras do sistema a que pertencem sem racionalizar sobre seus atos. É o que ocorre, via de regra, no mundo ocidental, onde as pessoas, cada vez mais guiadas por metas capitalistas e individualistas, perdem a capacidade de reflexão consigo mesmas e de valorização do que realmente importa. São apenas peças de um grande sistema onde poucos possuem a qualidade do auto-conhecimento.

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