quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A preguiça na história da humanidade



Na Grécia antiga, o ócio era mais valorizado que o trabalho, sendo considerado como algo a ser alcançado e desfrutado. Segundo Aristóteles, o ócio era o estado de estar livre da necessidade de trabalhar; e a capacidade de vivê-lo devidamente era a base do homem livre e feliz. A idéia de ócio, na cultura grega, permitiu a divisão da sociedade em duas classes de homens: os escravos e os dedicados à arte, à contemplação ou à guerra. Ao homem de pensamento, era reservado o tempo livre, o ócio com dignidade, utilizado para a elevação e emancipação, para a contemplação do belo, para a discussão em torno do útil e do justo. Aos escravos, que não eram considerados como pessoas, era reservado todo o trabalho. Portanto, a organização e comando da polis cabiam aos cidadãos, que eram proibidos de exercer o trabalho braçal, pois eles deveriam ter tempo livre, para se dedicar à reflexão e ao exercício da cidadania do bom-governo.
Contrário à cultura grega, o Catolicismo, melhor expresso pelas idéias de São Tomás de Aquino, classificou a preguiça como um dos sete pecados capitais, caracterizando-a como estado de falta de capricho, de esmero, de empenho, desleixo, morosidade, lentidão e moleza, aversão ao trabalho freqüentemente associada ao ócio, vadiagem. Na Bíblia Sagrada, principalmente no livro de Provérbios, constatam-se várias orientações para evitar a preguiça.
Com a reforma protestante, apesar dos questionamentos contra a Igreja Católica, João Calvino e Martinho Lutero resgataram o conceito cristão de trabalho, afirmando que o homem teria a responsabilidade de cumprir a sua vocação por meio dele. De acordo com Calvino, “Se seguirmos fielmente nosso chamamento divino, receberemos o consolo de saber que não há trabalho insignificante ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus.”
Na tentativa de relacionar os ideais protestantes com a gênese do espírito capitalista, Max Weber afirmou que a consideração do trabalho como o mais alto instrumento de ascensão e o mais seguro meio de preservação da redenção da fé e do homem deve ter sido a mais poderosa alavanca da expressão dessa concepção de vida constituída pelo capitalismo.
Verifica-se, com base nessa breve análise histórica, que o trabalho foi sendo defendido em detrimento da preguiça com o passar dos anos e dos ideais que rondavam as sociedades. Nos dias de hoje, essa valorização do trabalho persiste e o preguiçoso, que não trabalha ou não desenvolve com empenho o seu trabalho, é visto como “vagabundo”.
Atualmente, é complicado concluir que a preguiça é o maior mal da humanidade. Apesar de ela causar lentidão no desenvolvimento das atividades da sociedade, como por exemplo, a morosidade processual, que segundo alguns advogados, é causada pela preguiça dos juízes; o trabalho também pode ser visto como um mal quando se constata que ele é a causa das misérias individuais e sociais vividas pela humanidade.

Preguiça...comum, mas o pior? E a avareza?

Um comentário:

  1. Segundo a concepção de Max Weber, o trabalho é realmente um meio de ascensão social, mas sempre este meio foi alvo de exploração por parte dos capitalistas. Atualmente, podemos considerar o trabalho como algo que faz parte da dignidade humana. Contudo, da forma que está sendo feito, apesar de todos os avanços e conquistas dos trabalhadores, a exploração e a desigualdade social, frutos da ambição do ser humano, estão cada vez mais evidentes e difíceis de suportar. Antes, o homem lutava para conseguir um melhor salário, uma promoção e alguns benefícios, hoje, ter um trabalho, ou melhor, um emprego já se pode dizer que é uma conquista fenomenal. O problema está do outro lado da relação, os capitalistas, patrões querem a todo custo aumentar seus lucros e o faz até de modo desumano quando explora o trabalho alheio e paga quantias irrisórias frente aos lucros obtidos. É o que percebemos com as Instituições Financeiras, principalmente aqui no Brasil. Com a atual greve, os clientes estão trabalhando para os banqueiros, estes, por sua vez, continuam cobrando altas taxas para a manutenção das contas correntes. Parabéns pela abordagem! Me inspirou a tecer o comentário neste momento tão oportuno, a greve nacional dos trabalhadores bancários.

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Um terrorista sequestra 20 pessoas em um shopping e as esconde dentro de uma sala. Nesta sala os reféns encontram-se amarrados à explosivos de grande capacidade destrutiva. Os agentes policiais recebendo o chamado prontamente se dirigem ao shopping. Ao chegar ao local estabelecem contato com o terrorista, que demanda várias exigências a serem cumpridas para a liberação dos reféns vivos, entretanto em nenhum momento conseguem ver quem está ao telefone. O comandante da operação dada a situação de grande perigo decide ordenar a invasão e acaba por prender um rapaz com as mesmas características que foram apresentadas na ligação anônima denunciando o delito, entretanto não encontram os reféns. Posteriormente a captura, começam então os policiais a perguntar ao rapaz aonde estavam os reféns. Nenhuma resposta é encontrada, uma vez que o rapaz recusava a dar as informações, sob a alegação de que não era o terrorista e portanto não sabia a localização do cativeiro. O comandante diante das alegações do jovem tenta estabelecer contato com o telefone, o qual antes o terrorista vinha utilizando, mas a ligação não é atendida. Tendo em vista o prazo estabelecido pelo terrorista, a situação começa a se agravar diante da iminente explosão caso não sejam encontrados os reféns. O Comandante nesse momento se depara com um dilema moral, filosófico e legal:

Deve torturar o rapaz em busca das informações abandonando assim o respeito à dignidade humana, sobrepondo o comunitarismo em face do liberalismo, ou até mesmo praticando um ato ilegal, que resultará na salvação de muitas outras vidas? O que você faria?

Em que momento um ser humano realizou o ato mais cruel?

Qual é o pior dos sete pecados capitais?

Qual sua opinião a respeito da legalização do uso de drogas?