Ao falarmos sobre a história do mal, é preciso atentar para o fato de que antes mesmo do surgimento da filosofia, explicações acerca desse problema já existiam na mitologia. Ao longo dos milênios, espalharam-se por todo o mundo diversas explicações mitológicas para as questões filosóficas.
A existência de uma luta incessante entre o bem e o mal foi exemplificada no mito mais conhecido da Noruega, narrado no poema Trymskveda. Este mito conta a história de Tor e seu martelo. Acreditava-se que Tor cruzava os céus numa carruagem puxada por dois bodes e ao agitar seu martelo produziam-se raios e trovões. Logo, vinha a chuva. Sendo a chuva vital para os camponeses, Tor era adorado como o deus da fertilidade. Mas seu martelo não trazia apenas chuva, era também uma arma na luta contra as perigosas “forças do caos”. As forças do caos eram representadas pelos monstruosos trolls, habitantes do reino de fora (Utgard), que não se cansavam em tentar destruir o mundo. Uma possibilidade que os trolls tinham de destruir Mitgard (reino de Tor) era roubar Freyja, a deusa da fertilidade. Com isto, nada mais cresceria nos campos e as mulheres não teriam mais filhos. Era essencial, portanto, que os deuses mantivessem os trolls afastados.
Narra o mito que certo dia Tor adormeceu e ao acordar, viu que seu martelo havia desaparecido. Voando até o reino dos trolls, Loki, homem de confiança de Tor, encontrou Trym, o rei dos trolls, que se gabava por ter enterrado o martelo 5 km abaixo da terra. Trym disse que os deuses só teriam o martelo de volta se Freyja se casasse com ele. Inesperadamente, os deuses se viram diante de um drama jamais visto, isto é, um drama envolvendo um refém. Se os deuses entregarem a deusa da fertilidade, os pastos secarão, e os homens acabarão morrendo. Então, Loki tem uma idéia: fantasiar Tor de noiva, pois seria a única chance de ele reaver o martelo. Chegando para a festa de casamento no reino dos trolls, Tor, coberto pelo véu da noiva, come um boi inteiro, oito salmões e bebe três barris de cerveja. Por um triz o disfarce não é descoberto. Trym ordena que tragam o martelo e que ele seja colocado no colo da noiva durante a cerimônia. Conta o mito, que quando Tor viu o martelo em seu colo deu uma boa risada. Então, ele mata Trym e todos os outros trolls em seguida. Assim, o terrível drama envolvendo um refém, tem um final feliz. Tor - o James Bond dos deuses - tinha vencido as forças do mal.
Esta era a explicação mitológica para o funcionamento da natureza e para o fato de existir sempre uma luta entre o bem e o mal. E mais, despertava o fato de que as pessoas precisavam elas mesmas participar dessa luta contra o mal.
Na Antiguidade as pessoas precisavam, por exemplo, oferecer sacrifícios aos deuses, a fim de que eles se fortalecessem o suficiente para vencer o mal, já na sociedade contemporânea, os cidadãos devem cumprir normas impostas por um Estado soberano, a fim de que este garanta a segurança e a paz, protegendo-lhes de todos os males.
Concluindo então, o mal está presente por toda a história. O primeiro filósofo a inserir a história em sua filosofia foi Santo Agostinho. A idéia de uma luta entre o bem e o mal não era algo novo à sua época. O que é novo em Santo Agostinho é o fato de esta luta acontecer dentro e através da história. Neste sentido, ele dizia que a história é necessária para educar o homem e eliminar o mal.
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